Os Investimentos Diretos no País (IDP, antes chamados de IED) não foram suficientes para cobrir o rombo nas contas externas. Segundo informações divulgadas nesta quarta-feira, 22, pelo Banco Central, esses recursos trazidos por estrangeiros e que são destinados para o setor produtivo somaram US$ 4,263 bilhões em março, deixando uma diferença a ser coberta por capital especulativo, recursos que têm sido atraídos ao Brasil pelo elevado diferencial entre os juros externo e doméstico.
O resultado ficou ligeiramente acima das estimativas apuradas pelo AE Projeções, feitas com base na metodologia antiga, que iam de US$ 3,3 bilhões a US$ 4,2 bilhões, com mediana de US$ 3,7 bilhões. Pelos cálculos do Banco Central, o IDP de março ficaria em US$ 3,6 bilhões. A estimativa da autarquia foi feita com base nos números até 20 de março, quando o País havia recebido US$ 2,4 bilhões em recursos externos.
No acumulado dos últimos 12 meses até março deste ano, o saldo de Investimento Estrangeiro ficou em US$ 88,793 bilhões, o que representa 3,97 % do Produto Interno Bruto (PIB). No trimestre, o ingresso de investimentos estrangeiros destinados ao setor produtivo soma US$ 13,136 bilhões.
O Investimento Estrangeiro Direto (IED) na nota de Contas Externas brasileiras divulgada pelo Banco Central nesta quarta-feira, 22, passou a se chamar Investimento Direto no País (IDP). A mudança de nomenclatura faz parte das alterações implementadas pela instituição para acompanhar a nova edição do manual de balanço de pagamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI). A última revisão foi em 2001. O Investimento Brasileiro Direto (IBD) também mudou e agora passa a se chamar Investimento Direto no Exterior (IDE).
Com a mudança, o Banco Central introduziu nas estatísticas o conceito de “lucros reinvestidos” – que ocorre quando uma empresa obteve um lucro e decide manter esses recursos no Brasil em vez de repatriá-lo para a matriz. Essa nova conta tem impacto no registro de IDP, mas não afeta o fluxo cambial. Em março, os lucros reinvestidos ficaram negativos em US$ 223 milhões.
Lucros e dividendos
A alta do dólar frente o real, que chegou a 35% nos últimos 12 meses, começa a esfriar a remessa de lucros e dividendos para fora do País. Ainda assim, o saldo dessa conta continua negativo – em março, a saída líquida somou US$ 1,199 bilhão. Em igual mês do ano passado, esse envio de recursos foi de US$ 2,091 bilhões.
No acumulado do primeiro trimestre, a saída líquida de recursos via remessa de lucros e dividendos alcançou US$ 2,669 bilhões. O resultado é quase a metade do registrado em igual período do ano passado, quando as remessas foram de US$ 4,918 bilhões.
As despesas com juros externos somaram US$ 1,070 bilhão em março ante US$ 963 milhões em igual mês do ano passado. No trimestre, essas despesas alcançaram US$ 6,899 bilhões, valor maior que os US$ 6,4 bilhões de igual período do ano passado.
Investimento externo
O saldo de investimento estrangeiro em títulos de renda fixa negociados no País ficou positivo em US$ 3,165 bilhões em março e positivo em US$ 16,670 bilhões no acumulado de 2015. Em igual mês do ano passado, essas aplicações somavam US$ 15,134 bilhões.
O aumento da procura por esses títulos teve início em junho de 2013, quando o governo zerou o Imposto sobre Operações Financeira (IOF) sobre esse tipo de aplicação. Mais recentemente, o atual ciclo de aperto monetário aumentou o diferencial de juros entre o Brasil e o restante do mundo, tornando as aplicações brasileiras de renda fixa mais interessantes para os estrangeiros. O investimento em títulos negociados no exterior ficou negativo em US$ 1,601 bilhão em março e em US$ 3,217 bilhões no ano.
O investimento estrangeiro em ações brasileiras ficou positivo em US$ 1,354 bilhão em março. Em igual mês do ano passado, o resultado havia sido ligeiramente menor, de US$ 1,303 bilhão. Para o ano completo, o BC manteve a projeção de que a aplicação nesses papéis somem US$ 13 bilhões.
As aplicações em ações negociadas no País somaram US$ 1,136 bilhão. Já as negociadas no exterior (ADRs) registraram um saldo positivo de US$ 2 milhões. As aplicações em fundos de investimento, dado que não existia até a divulgação passada, foram de US$ 216 milhões. Em março do ano passado, as aplicações de estrangeiros em fundos somou apenas US$ 19 milhões.
Juros de rolagem
A taxa de rolagem de empréstimos de médio e longo prazos captados no exterior ficou em 102% em março. O resultado ficou abaixo do verificado em março do ano passado, quando a taxa havia sido de 217%, valor suficiente para honrar compromissos das empresas no período.
De acordo com os números apresentados hoje pelo BC, a taxa de rolagem dos títulos de longo prazo, que até a nota anterior tinham a nomenclatura de “bônus, notes e commercial papers” ficou em 62% em março. Em igual mês de 2014 havia sido de 52%. Já os empréstimos diretos conseguiram uma cobertura de 114% no mês passado ante 456% de março de 2014.
No trimestre, a taxa de rolagem total ficou em 104%. Os títulos de longo prazo ficaram com taxa de 54% e os empréstimos diretos com 115% no período.