O Brasil quer um sinal dos países emergentes mostrando que estão realmente dispostos a negociar um acordo de liberalização de mercados no âmbito da Rodada Doha, promovida pela Organização Mundial do Comércio (OMC). O governo brasileiro apresentou uma proposta em Genebra sugerindo a redução das tarifas de importação de alguns setores agrícolas e sem limites estabelecidos por cota.
Segundo o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, ministro Paulo Mesquita, a proposta brasileira serve para nivelar as expectativas em relação ao resultado da Rodada Doha. “Os países desenvolvidos estão pedindo abertura de mercado sem nada em troca. Ou todo mundo faz a abertura de mercado, o que parece pouco provável, ou temos que ser mais realistas em relação ao que se faz”, afirmou.
Ele explicou que a proposta foi feita informalmente no final de janeiro e está sendo debatida está semana, em Genebra, durante a reunião de um grupo formado pelos 11 países mais representativos na negociação da OMC. O Itamaraty acredita que é possível abrir mercado para produtos brasileiros como carnes, açúcar e etanol. “Os países desenvolvidos dizem que não podem fazer nada na área agrícola. Nós queremos saber se eles são sérios na hora de fazer propostas”, reiterou o diplomata.
O problema é que os países desenvolvidos defendem a abertura dos mercados industrial e de serviços dos países emergentes, mas não estão dispostos a reduzirem as barreiras aos produtos agrícolas dos emergentes. O Brasil sugere que se trabalhe com setores, assim como foi feito na área industrial, para levantar aqueles que estão prontos para fazer a liberalização. O Brasil quer tarifa zero sem a limitação de quantidades por cotas. O prazo para essa liberalização ocorrer seria definido durante a negociação dos setores que teriam a tarifa reduzida. “Não é para as pessoas pensarem que a proposta é para amanhã”, disse Mesquita.
O acordo sugerido pelo Brasil mostra uma mudança de foco nas negociações. Até agora, o foco era na redução dos subsídios agrícolas e das barreiras comerciais, enquanto os países desenvolvidos querem a abertura de mercado nas áreas industrial e de serviço. O Brasil vem rejeitando as demandas para abertura no mercado industrial.