Brasil quer compensações para se integrar à Alca

Brasília – O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que o Brasil pedirá redução de tarifas para o suco de laranja e aumento de cotas para açúcar, álcool (etanol) e carnes (frango) nos Estados Unidos e no Canadá nas discussões da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Segundo ele, essa seria uma maneira de compensar a exclusão dos subsídios agrícolas das negociações. Os Estados Unidos decidiram colocar os subsídios na Organização Mundial do Comércio (OMC). As compensações não fazem parte do documento final da reunião de Miami, encerrada anteontem e que definiu um cronograma de negociações para a Alca a partir de fevereiro de 2004.

“O Brasil está colocando que se não pode ser tratado o tema dos subsídios na Alca, então precisam ser oferecidas compensações na área agrícola, com acesso a mercados”, disse Rodrigues, por telefone, de Miami, onde participou da reunião ministerial dos 34 países.

Para o ministro, as compensações agrícolas têm que ser discutidas dentro do próprio setor, e não somente em áreas como indústria. Se houver uma reivindicação em soja, segundo essa visão, não se pode ter compensação apenas para o setor siderúrgico, por exemplo. Roberto Rodrigues disse que a partir de agora o governo vai precisar do suporte cada vez maior do setor privado para realizar uma negociação que não traga problemas ao país no futuro. Ele lembrou que a reunião de Miami contou com vários representantes do agribusiness, indústria e serviços.

“Será necessário ter uma boa relação público e privada nessa negociação. Antes não havia essa relação fluida”, afirmou.

Rodrigues ressaltou que a reunião de Miami não foi uma vitória, mas não se tornou uma fracasso como o encontro da OMC, em Cancún (México), neste ano. Na ocasião, houve um impasse na discussão de subsídios agrícolas e os debates travaram. Segundo ele, os resultados não foram concretos e as discussões efetivas produto a produto começam em Puebla (México), em fevereiro próximo.

Confronto com manifestantes

Centenas de manifestantes entraram em confronto com a polícia ontem em Miami (EUA), em um local bem próximo de onde acontece a reunião da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). A polícia ergueu cercas para isolar toda a região que abriga o hotel onde acontece a reunião. No entanto, no final da manhã, parte dos cerca de mil manifestantes que estavam no local tentaram furar o bloqueio.

Os policiais reagiram e acabaram usando cassetetes para forçar os manifestantes a recuar. Houve presos e feridos, ainda em número desconhecido. Segundo a polícia, apenas um oficial foi levado ao hospital com ferimentos.

O porta-voz da polícia, Jorge Pino, culpou os manifestantes pelo confronto. “Nós estamos basicamente tentando manter a paz no centro da cidade, mas há alguns indivíduos que infelizmente tentam destruir nossos esforços”, afirmou.

ONGs que organizaram o protesto prometeram reunir cerca de 10 mil pessoas em uma nova manifestação contra a Alca.

Desde a reunião da OMC (Organização Mundial de Comércio) em Seattle (EUA), em 1999, confrontos entre a polícia e ativistas antiglobalização têm se tornado comuns em fóruns comerciais.

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