Foto: Arquivo/O Estado |
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Rodrigo de Rato (com o presidente Lula): um desafio. |
O Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a enfatizar a necessidade de melhorar a política fiscal do governo brasileiro. O diretor-gerente do organismo multilateral, Rodrigo de Rato, disse ontem que um ?um dos principais desafios? da política orçamentária do País é a rigidez causada pelas despesas vinculadas.
?O Brasil precisa de uma estrutura orçamentária mais flexível, na qual menos decisões de gastos sejam preconcebidas em termos de comprometer a receita?, disse Rato numa entrevista durante a reunião anual do fundo, em Cingapura. ?Esse é um elemento chave na modernização da estrutura orçamentária do Brasil.?
Rato disse que o ?o esforço feito pelo governo brasileiro na redução de sua dívida tem sido cada vez mais importante? para o País. Mas observou que são necessários mais avanços nessa área. ?Há os desafios de manter o nível alto do superávit primário e, ao mesmo tempo, resolver as necessidades sociais e de infra-estrutura?, disse. Na quarta-feira, o vice-diretor de departamento de pesquisa do fundo, Charles Collyns, já havia afirmado que o gasto público brasileiro, que vem crescendo rapidamente, precisa ser mais focado na área social e de infra-estrutura.
O vice-diretor-gerente do fundo, John Lispky, que acompanhou Rato na entrevista a imprensa, disse que o governo brasileiro deve aproveitar a perspectiva ?positiva? para sua economia em 2007 para melhorar a qualidade de sua política fiscal.
?Estamos prevendo um crescimento econômico no Brasil um pouco mais rápido no próximo ano, cerca de 4%?, disse Lipsky. Por isso, observou, o contexto para a continuidade de adoção de políticas que fortaleçam a economia brasileira será favorável. ?Nossa esperança é que nesse ambiente relativamente benigno as autoridades serão capazes de progredir na questão dos gastos públicos, como o diretor-gerente acabou de mencionar?, disse Lipsky.
Rato destacou que, ?independente dos atuais indicadores, o Brasil deu passos importantes em tornar os gastos sociais mais eficientes?. A redução da pobreza no País, acrescentou, tem ?progredido? nos últimos anos. ?Trata-se de um bom exemplo na América Latina, não o único, mas um bom exemplo de melhor direção do gasto social?, disse. ?Estou encorajado pelo que já vi.?
Fluxo para países emergentes deve cair 13% este ano
Cingapura (AE) – O Institute of International Finance (IIF), entidade que reúne os principais bancos privados do mundo, prevê que os fluxos de capitais privados para os países emergentes declinarão acentuadamente neste ano, dos US$ 480 bilhões registrados em 2005 para US$ 418 bilhões, uma queda de 13%. No próximo ano, eles deverão continuar sendo afetados pelo ambiente de menor liquidez nos mercados internacionais, registrando uma nova queda, para US$ 404 bilhões.
O ?clube dos banqueiros?, como a entidade também é conhecida, está mais pessimista com as perspectivas da economia mundial do que o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele alertou que o ambiente externo deverá ser menos favorável em 2007, com um aperto da liquidez, aumentando os riscos para os países emergentes. ?Poderemos ter tempos mais difíceis?, disse o presidente do Deutsche Bank, e também do IIF, Josef Ackermann.
O presidente do Citibank, Wil-liam Rhodes, que também é diretor da entidade, foi ainda mais pessimista. Ele alertou sobre o perigo de estagflação (inflação acompanhada de recessão) nos Estados Unidos. ?Estamos vendo uma desaceleração da economia norte-americana que deve se aprofundar, acompanhada de pressões inflacionárias?, disse Rhodes.
Segundo ele, a volatilidade que atingiu os mercados em maio passado deve ser visto como um aviso para os investidores. ?É preciso ser cuidadoso ao se avaliar os riscos?, disse. ?Ser seletivo com os ativos emergentes é a palavra-chave?, disse Rhodes.
Mesmo com a queda para US$ 418 bilhões neste ano, este será o segundo maior fluxo de capitais para os países emergentes já registrado pelo IIF. Segundo a entidade, a principal parte dessa desaceleração será causada por uma redução dos empréstimos contraídos pelos bancos comerciais e outros credores privados, pois governos e empresas aproveitaram o ambiente favorável no ano passado para pré-financiar suas obrigações.
Liderança
O Brasil, segundo o IIF, vai superar o México e se tornar o maior receptor de fluxos de capitais na América Latina até 2007. Mas, segundo a entidade, os fluxos totais para região dos US$ 63,9 bilhões registrados no ano passado, passaram para US$ 38 bilhões em 2006.
?Uma reversão significativa nas contas dos fluxos dos credores que não pertencem ao setor bancário serão os principais responsáveis por esse declínio?, disse o IIF. Em 2007, os fluxos deverão se recuperar, somando US$ 51,4 bilhões. Com isso, a fatia da América Latina no total dos fluxos para os emergentes deverá continuar oscilando entre 9% e 13%.
Segundo o IIF, embora a maioria dos países latino-americanos deva registrar uma desaceleração na atividade econômica neste ano, ?melhoras nas perspectivas de crescimento do México e Brasil? deverão impulsionar o crescimento regional para 4,8%. Mas, no próximo ano, um comportamento mais fraco das exportações latino-americanas deverá levar o crescimento da região a uma taxa inferior a 4%.
Agência prega fortalecimento fiscal
Cingapura (AE) – A agência de classificação de risco Standard and Poor?s disse que o fortalecimento dos indicadores fiscais e uma perspectiva de tendência de crescimento econômico mais robusto fortaleceriam a qualidade do crédito do Brasil e, com isso, ?a possibilidade e o ritmo no qual o País poderia alcançar o grau de investimento?. Num relatório no qual avalia as diferenças entre a situação econômica do País entre 2002, na última eleição presidencial, e a atual, a agência observa que ?a resolução dessas fraquezas vão exigir um comprometimento político amplamente alicerçado em várias partes e níveis? do futuro governo federal.
A analista da S and P, Lisa Schineller, ressaltou que os indicadores brasileiros registram uma acentuada melhora ao longo dos últimos quatro anos, reduzindo a vulnerabilidade do País. ?A inflação e as expectativas inflacionárias estão bem contidas e abaixo do centro da banda da meta de 4,5%?, disse Schineller. ?Portanto, a Selic deverá continuar a declinar ao longo do restante deste ano.?
Ela observou que, desde 2002, o forte crescimento econômico mundial, aliado às políticas aplicadas no Brasil, levou os mercados a avaliarem mais positivamente ?a capacidade e disposição do País onrar suas obrigações de uma maneira sensata?. Essa avaliação, explicou, é baseada é julgamentos qualitativos, como a maior confiança na capacidade do governo Lula administrar a economia, como também quantitativos, ?como por exemplos as vastas melhoras nas dinâmicas externa e fiscal? do País.
Segundo a analista, a combinação da ?melhora na composição da dívida e a combinação de um suficientemente alto superávit primário deverá manter o déficit nominal em seu atual patamar mais baixo? no médio prazo. ?Mas o Brasil precisa continuar a registrar superávits primários altos para manter a dívida numa trajetória declinante?, disse.
No entanto, Schineller observou que apesar da melhora nos fundamentos do País, suas fragilidades remanescentes ?ainda demandam reações políticas corretivas, imediatas diante de choques?. A analista ressaltou que o Brasil ainda tem uma classificação de risco especulativa. ?As duas áreas de fraqueza econômica, que se destacam quando o Brasil é comparado com países da faixa inferior do grau de investimento, são a ainda elevada carga fiscal e as perspectivas de crescimento menores do País – que estão inextricavelmente relacionadas? , afirmou.
