Com uma extensa dimensão territorial e maior disponibilidade de recursos hídricos, o Brasil tem grandes chances de assumir a liderança na agricultura mundial nos próximos anos. Diferentemente de nações como os Estados Unidos e a China, que são dependentes de sistemas de irrigação e já não dispõem de novas áreas para abertura agrícola, o País desfruta de condições climáticas favoráveis, que o permitem cultivar até duas safras em algumas áreas de sequeiro.
A avaliação é de Warren Kreyzig, analista de commodities do Banco Julius Baer, que atua no Brasil por meio de participação de 80% na GPS Investimentos Financeiros e Participações SA. De acordo com ele, o déficit hídrico é a principal restrição para produção global de alimentos. “Essa restrição de água deve melhorar a perspectiva de demanda para o Brasil, que se tornará o grande provedor de alimentos do mundo”, comentou Kreyzig em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
Com base em um cenário de crescimento médio da economia e sem considerar eventuais ganhos de eficiência, ele projeta que o consumo mundial de água crescerá 50% até 2030, o que resultará em um déficit de aproximadamente 2,7 bilhões de metros cúbicos. O analista do banco suíço observou que a agricultura irrigada responde por cerca de 70% do consumo global de água e, dada a expansão demográfica e o aumento dos níveis de consumo, os produtores terão de competir com a indústria por recursos hídricos em países que não são favorecidos em termos de hidrografia quanto o Brasil.
Kreyzig alertou, contudo, que o setor agropecuário brasileiro precisará de investimentos maciços para ocupar a liderança no mercado mundial. Entre os aspectos que precisam ser aprimorados, ele citou a logística de escoamento da produção. “A situação melhorou muito em relação ao ano passado e vislumbramos um bom futuro para o Brasil na agricultura”, reforçou.
Os preços mais altos das commodities agrícolas, sobretudo dos grãos, permitiu ao produtor se capitalizar a ampliar os desembolsos na lavoura. Mas o analista do Julius Baer alertou para uma redução dos lucros na safra 2014/15. No caso da soja, ele adota um viés baixista por causa da perspectiva de uma produção norte-americana recorde e da queda na demanda doméstica por ração animal em meio à disseminação da diarreia epidêmica suína. “Também esperamos cancelamentos de cargas dos EUA porque, embora tenham melhorado, as margens de esmagamento na China ainda estão negativas”, justificou.
Para Kreyzig, as cotações da oleaginosa devem encerrar o ano comercial 2013/14, que vai até 31 de agosto, em torno de US$ 13 por bushel no curto prazo. Para o contrato novembro, referente à nova colheita norte-americana, ele trabalha com uma perspectiva de US$ 10,50 por bushel.
Em relação ao milho, o analista do banco suíço citou uma tendência neutra, já que o cereal é mais vulnerável que a soja às condições climáticas. “Junho e julho são os meses mais importantes e precisamos ver como o clima se sairá”, disse, apontado uma meta de US$ 4,50 por bushel para os próximos três meses.
Quanto ao trigo, Kreyzig observou que o mundo está bem abastecido e, mesmo com problemas de seca nos EUA, os estoques tendem a permanecer em níveis confortáveis. Por isso, ele prevê que os futuros da commodity recuem para US$ 6,30 por bushel nos próximos três meses e, depois, acentuem as perdas até US$ 6 por bushel no mês seguinte.