São Paulo (AG) – O Brasil continua perdendo competitividade em relação a outros países, apesar da melhora recente da economia e do aumento das exportações. Segundo estudo do Fórum Econômico Mundial, divulgado ontem em Nova York, em 2003 o Brasil perdeu três posições no ranking de competitividade macroeconômica (Índice de Crescimento Competitivo). Passou de 54.º para 57.º lugar entre os 104 países analisados. No índice que avalia a competitividade empresarial (Índice de Competitividade de Negócios), o País aparece em 37.º lugar, perdendo três posições em relação ao ano anterior.
Finlândia e Estados Unidos revezaram a primeira colocação nos dois índices. A Finlândia liderou no Índice de Crescimento Competitivo e os Estados Unidos no Índice de Competitividade de Negócios. Na América Latina, o Chile se destacou, bem à frente dos demais países. Ficou em 22.º lugar no índice de competitividade macroeconômica e 28.º no de competitividade empresarial. A Argentina teve uma péssima colocação: no ranking dos 104 países, ficou na 74.ª e 69.ª posições, respectivamente. Os rankings levam em conta, além das condições macroeconômicas, variáveis como qualidade de instituições públicas, como independência do Judiciário, nível de corrupção no governo e fatores tecnológicos.
Pela primeira vez, o Fórum Econômico Mundial divulgou um Índice de Competitividade Global, que reúne os dois índices atuais, o de crescimento competitivo e o de competitividade empresarial. Neste ranking, o Brasil ficou em 49.º lugar. Como comparação, basta verificar que o Chile ficou em 29.º lugar. México e Argentina ficaram atrás do Brasil na 60.ª e na 75.ª posição, pela ordem.
“Tenho consciência dos elogios feitos pelas agências de rating em relação ao Brasil, sobretudo em relação ao ajuste fiscal. Nossos índices, no entanto, não dão crédito à performance histórica e o Brasil tem um déficit fiscal ainda muito elevado. O País permanece pobre e com déficit fiscal elevado”, afirmou o economista-chefe do Fórum Econômico Mundial, Augusto Lopes Claros.
Michael Porter, professor da Harvard Business School, disse que o Brasil tem sido muito elogiado pelos seus esforços, mas está apenas no início de um caminho de crescimento sustentado. Na avaliação de Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, que coordena a pesquisa no Brasil, o País apresenta problemas graves com as taxas de juros, especialmente com o alto spread bancário (diferença entre a taxa paga pelos bancos na captação de recursos e a cobrada nos empréstimos), e com a inflação. Para ele, a inflação, apesar de baixa, ainda é mais alta do que na maior parte dos outros países.
Arruda afirma ainda que a taxa de poupança interna ainda é muito pequena. Pelos dados do fórum, o Brasil está na 93.ª posição entre os países com maior inflação do mundo, enquanto no ano de 2002 ocupava a 80.ª posição. No ranking dos juros, está em 101.º lugar, contra 100.º no ano anterior. “Se os dados continuarem assim e os outros países mantiverem suas taxas atuais, o Brasil, que já vem apresentando uma certa melhoria, pode crescer algumas posições no índice de 2004”, disse Arruda.
Alto custo da captação é o maior entrave
O Brasil ocupava a 39.ª posição no ranking da competitividade mundial em 2002, de acordo com o Indicador de Competitividade (IC) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O estudo reúne 83 variáveis de 43 países e tem como objetivo identificar as principais restrições ao crescimento da competitividade brasileira, além de avaliar o esforço realizado e necessário para o crescimento e a sustentação da competitividade em relação aos outros países. Segundo o relatório apresentado, o principal fator de atraso na competitividade no País é o alto custo da captação de dinheiro junto aos bancos.
De acordo com a pesquisa da Fiesp, em 1997 o Brasil ocupava a 37.ª posição do ranking, pulando para 36.ª em 1998 e 40.ª em 2001. O estudo indica ainda que, no período analisado, o País passou por um forte ajuste interno e externo com medidas que dificultaram a atividade econômica, restringindo o crescimento do País e conseqüentemente inibindo a competitividade.
Segundo o gerente de Projetos de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, Renato Corona Fernandes, as medidas que mais contribuíram para o entrave da competitividade brasileira foram a desvalorização e a flutuação do câmbio, a promoção de superávit para honrar os compromissos externos, aumento das taxas de juros reais, ajuste fiscal, redução de gastos e principalmente o aumento de impostos. Fernandes explicou que o Brasil possui restrições específicas para o aumento da competitividade. “De acordo com a ordem de importância, são eles o capital, tecnologia, economia doméstica e abertura”, disse.
