O Brasil tem grande potencial para atrair investimentos estrangeiros neste ano, sobretudo em setores como aeroportos, portos e estradas, avalia o chefe de Economia e Estratégia para América Latina do Bank of America Merrill Lynch, Claudio Irigoyen. Na visão do economista argentino, como o crescimento do País não poderá se embasar mais na alta do consumo, é desses aportes que o País mais precisa.
Ele diz confiar na equipe econômica e que as medidas de reajustes propostas são necessárias, mas ainda será preciso uma segunda onda de reformas, para facilitar a abertura de empresas e simplificar a área fiscal, para atrair investidores.
Para a América Latina, o executivo avalia que será um ano desafiador, sobretudo para a economia mexicana, após o início do mandato de Donald Trump, no próximo dia 20, mas que os países da região devem aproveitar o momento de mudanças no comércio exterior para se posicionarem como portos seguros para receber recursos.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.
A crise econômica, que ainda deverá comprometer 2017, e as denúncias de corrupção envolvendo grandes empresas afetam a disposição de grupos estrangeiros virem investir no Brasil?
Há um profundo interesse, por parte dos investidores estrangeiros, na compra de ativos do País, que ficaram baratos com a crise. O que ocorre, no entanto, é que um dos principais entraves para investimentos no Brasil ainda é o alto grau de insegurança que os empresários de fora têm em alguns setores-chave para a economia brasileira, sobretudo os mais envolvidos em escândalos de corrupção.
Quais seriam as consequências de mais um ano perdido?
O Brasil não pode se dar ao luxo de perder mais um ano. Os últimos anos foram muito difíceis, de desindustrialização, recessão, queda no consumo. O País precisa avançar logo nas reformas. O cenário não é nada fácil, mas o País superou alguns problemas de crises passadas, como a inflação, hoje controlada. Estou certo de que o Brasil tem hoje a melhor equipe gerindo a economia. O risco será maior, caso o governo não consiga avançar nas importantes reformas que estão postas na mesa atualmente, como a trabalhista e a previdenciária, e se o País não se dispuser também a promover reformas que modernizem o fiscal.
Quais setores deverão se destacar agora e nos próximos anos?
Há, sem dúvida, uma grande atração por companhias de infraestrutura, sobretudo nas áreas de portos, aeroportos, estradas. A questão que passa pela cabeça do investidor é o quão seguro é entrar em determinados negócios. O sucesso nos investimentos vai depender diretamente da sinalização de que as instituições brasileiras estão funcionando.
Como será o ano para os mercados latino-americanos, ao se considerar o que promete ser o governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, e as mudanças vislumbradas para a Europa?
Este ano contrariou muitas expectativas e trouxe diversas incertezas, mas a onda antiglobalização que se instaurou com a saída do Reino Unido da União Europeia e com a eleição de um outsider nos Estados Unidos não pode ser subestimada. Quando a população sente que empobreceu, ela tende a tentar defender o que lhe é familiar. O mercado terá de lidar com os novos rearranjos que virão a partir de agora. Não se sabe como se dará a relação entre a China e os Estados Unidos – o que afetará o resto do mundo. Neste ano, o mercado deve observar o México com atenção, até pelo novo papel que o país deve desempenhar no comércio exterior e nas relações com os Estados Unidos a partir do início do governo de Donald Trump, no fim deste mês. Não acredito, porém, que o Nafta (acordo comercial entre Estados Unidos, Canadá e México) acabe.
O Brasil pode se destacar entre os latinos como um grande catalisador de investimentos?
O Brasil está melhorando, mas ainda é visto como um lugar difícil para se investir – e tenderá a continuar assim, sem uma reforma tributária e a implementação de políticas que facilitem a atração de negócios e abertura de empresas. Na América Latina, eu destacaria o bom momento da economia peruana. O país tem conseguido crescer com constância e tem criado um ambiente de negócio seguro para os investidores estrangeiros, deve ganhar um papel de maior importância na região pelos próximos anos. A Argentina talvez tenha hoje as melhores oportunidades de compra de empresas, em setores de grande relevância, como o de energia, deverá continuar se reorganizando sob o jeito de fazer política de Mauricio Macri.