Genebra (AE) – A saída de Rob Portman da chefia da representação de Comércio da Casa Branca (USTR) foi considerada pelo governo brasileiro e pelo setor agrícola nacional como um fato negativo para as negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), que entram em fase final. ?Ficará mais complicado e dificulta o processo?, afirmou o embaixador do Brasil na entidade, Clodoaldo Hugueney. Os demais embaixadores na OMC, surpreendidos pela notícia, também foram unânimes sobre as conseqüências negativas da substituição de Portman.
A missão dos Estados Unidos na OMC, vendo a reação da saída de seu chefe, se apressou em ligar para vários jornalistas em Genebra. ?Nada muda na política comercial americana com a troca no comando da USTR. Nossos objetivos na rodada da OMC continuam os mesmos, pois se trata de uma agenda do presidente George W. Bush?, afirmou Peter Allgeier, embaixador dos Estados Unidos na OMC.
Mas muitos acreditam que a rodada, que já entra em crise por falta de um entendimento entre os países, pode ser afetada. Um deles é o embaixador da União Européia (UE), Carlo Trojan. ?Está tudo acabado. Parece até algo feito de propósito?, desabafou um negociador africano na OMC. ?É como trocar os cavalos na fase final da corrida?, alertou outro diplomata europeu.
A entidade havia estabelecido o prazo de final de abril para que os países chegassem a um acordo sobre como ocorreria o corte de tarifas de importação de bens industriais e agrícolas. Esses temas teriam de ser fechados na reunião ministerial da OMC em Hong Kong em dezembro, mas o desentendimento entre os países adiou o acordo para este mês. O problema é que, pela falta de progresso nas negociações, tudo indica que o novo prazo de abril também será perdido.
?Essa não é uma boa notícia, principalmente diante da situação em que se encontram as negociações?, afirmou Donizeti Beraldo, representante da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) nas negociações da OMC. Segundo ele, o processo entra em uma fase política e modificar o negociador chefe da maior potência comercial do mundo pode afetar o ritmo do processo. ?Portman havia construído uma confiança por parte dos negociadores e estava envolvido no processo. Ele conhecia os limites de sua posição negociadora?, afirmou.
Portman era considerado um aliado do Brasil na pressão feita contra os europeus por uma maior abertura do mercado para produtos agrícolas. O americano chegou a buscar o chanceler Celso Amorim nos corredores da reunião de Hong Kong, de madrugada, pedindo que o brasileiro voltasse à mesa de negociações. Amorim havia abandonado a reunião com os demais ministros depois que os europeus indicaram que não cederiam na abertura de seu mercado.
No gabinete do diretor da OMC, Pascal Lamy, a notícia foi recebida também com pessimismo. Mas, em nota oficial divulgada pela entidade, Lamy apenas elogiou Portman e apontou que o americano foi ?instrumental? para que os países chegassem a uma maior convergência. O diretor da OMC ainda apontou que a substituta de Portman, Susan Schwab, assume em um momento em que a entidade entra em uma fase decisiva.
Alca
Na avaliação de Allgeier, Schwab ainda poderá dar um novo impulso nas negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), processo paralisado há meses diante das diferenças entre os países da região. Como vice-representante de Comércio da Casa Branca, Schwab já tinha como um de seus mandatos o Hemisfério Americano.
