Brasil já tem como ?enriquecer? urânio

Com discurso de que o País vai atingir a auto-suficiência na produção do combustível nuclear, a exemplo do que foi alcançado recentemente pela Petrobras em relação ao petróleo, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, inaugurou ontem a primeira unidade de enriquecimento de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil, em Resende, no sul fluminense. Durante entrevista, o ministro afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de arcar com um ?pequeno ônus político junto a grupos ambientais?, deve anunciar ainda este ano a retomada da construção da usina Angra 3. ?Depois do que aconteceu com a Bolívia, estou convencido de que o governo como um todo está percebendo a importância de o País ter uma matriz energética diversificada?, afirmou.

Para o ministro, o investimento de R$ 550 milhões até 2010 para a conclusão da fábrica, quando a instituição passaria a enriquecer 60% do urânio necessário para abastecer as usinas de Angra, se justifica por questões estratégicas. ?Em termos econômicos o investimento se paga em 10 anos. Mas o significado para a soberania do País é muito grande. Se a questão nuclear se agrava e há um pacto entre os países de deixarem de enriquecer urânio para os outros países, ficamos dependentes?, afirmou.

O enriquecimento do urânio é a fase mais cara da produção do combustível nuclear. A fábrica utiliza tecnologia nacional desenvolvida pela Marinha. As ultracentrífugas brasileiras são quase quatro vezes mais econômicas do que as tradicionais, utilizadas nos Estados Unidos e na Europa. As máquinas estiveram cercadas de polêmica. A Agência Internacional de Energia Atômica exigia visualização total dos equipamentos, a fim de garantir que eles não seriam usados para a produção de armas nucleares. O urânio para geração de energia é enriquecido a 4%. Já para a bomba, o minério precisa ser enriquecido em 90%. O governo permitiu maior visualização, sem comprometer o segredo industrial.

Os equipamentos são suficientes para enriquecer 2% do urânio necessário para abastecer as usinas de Angra 1 e 2. ?A cascata (conjunto de centrífugas) que está sendo inaugurada hoje corresponde a alguns por cento do que estará produzindo em 10 anos. A inauguração daquela plataforma continental da Petrobras em 1984 representava mais ou menos a mesma proporção: 50 mil barris diários. Hoje são dois milhões de barris por dia. Nós também vamos atingir a autonomia do combustível nuclear?, afirmou Rezende.

O presidente das Indústrias Nucleares do Brasil, Roberto Esteves, calcula que essa autonomia vá chegar em 2015. Esteves lembrou que o País detém o conhecimento tecnológico das cinco fases da fabricação do combustível nuclear e somente duas ainda não têm produção em escala industrial – a conversão do minério em gás e o enriquecimento de urânio. ?O único óbice é o investimento?, afirmou. Ele disse que tem projeto para instalação de uma fábrica no Ceará que ajudaria a financiar a conclusão da fábrica de enriquecimento e a de conversão.

Angra 3

Rezende defendeu a retomada da construção de Angra 3 como forma de diversificar a matriz energética brasileira. ?Há dois ou três anos, a geração termonuclear levava desvantagem em termos de preço, mas com o aumento do custo do petróleo e agora, mais ainda, com a imprevisibilidade de outras fontes energéticas, não tenho dúvida de que o componente nuclear na nossa matriz energética vai aumentar.?

Rezende informou que ainda este mês haverá um seminário sobre a retomada de Angra 3 para os integrantes do Conselho Nacional de Políticas Energéticas, órgão consultor da Presidência da República, antes da nova reunião do grupo, marcada para meados de junho.

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