Brasil exige indenização para a Petrobras

Foto: Agência Brasil

Amorim com Choquehuanca: negociação tem que ser técnica.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, deixou claro ao governo Evo Morales que o Brasil ainda não engoliu a maneira como foi anunciado o decreto de nacionalização dos setores de gás e petróleo e, em especial, a ocupação militar das instalações da Petrobras na Bolívia.

Ao lado do chanceler boliviano, Davids Choquehuanca, Amorim esclareceu que não interessa ao Brasil uma negociação de governo a governo sobre questões técnicas e empresariais, como o reajuste do gás. Mas acentuou, nas reuniões que manteve com Choquehuanca e com o próprio Evo Morales, que o Brasil não aceitará a saída da Petrobras sem o pagamento da devida indenização.

?O presidente Evo Morales sabe o que pensamos e a sensibilidade desse assunto para o Brasil?, respondeu Amorim, ao ser indagado por uma jornalista boliviana se o País havia superado o mal-estar causado pela ocupação militar das refinarias e das plantas de exploração.

Ontem, no seu esforço de retomar uma relação bilateral mais harmoniosa, baseada no diálogo e na confiança mútua, Amorim enfatizou que não será o governo brasileiro quem tomará as rédeas das negociações que ocorrerão com a Bolívia sobre os preços do gás e o destino da Petrobras no país. O governo brasileiro insiste que o tema é de ordem empresarial e deve seguir padrões sobre a viabilidade dos negócios da Petrobras no novo cenário criado pela nacionalização do setor do gás.

Indenização

Ao lado de Amorim, no Palácio Quemado, a sede do governo boliviano, Choquehuanca indicou que não houve mudança no argumento da Bolívia de que a Petrobras já obteve o retorno de seus investimentos na exploração do gás natural e que, portanto, não mereceria indenização, caso as negociações terminem sem acordo até 1.º de outubro e a empresa venha a se retirar do país.

Nos encontros privados, Amorim insistiu para que o governo boliviano aceite também os trabalhos de auditoria independente, para evitar conclusões apressadas e equivocadas.

Lula faz previsão otimista sobre produção de gás

São Paulo (AE) – O Brasil vai produzir, até 2008, praticamente a mesma quantidade de gás natural que importa atualmente da Bolívia. A informação foi dada ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no programa de rádio Café com o Presidente. Lula disse ainda que o governo testará termelétricas a álcool. ?Será uma extraordinária revolução porque vai aumentar a produção de álcool. Nós já estamos exportando muito, mas agora vamos consumir mais internamente e isso vai nos dar também independência?, afirmou.

Segundo o presidente, com a produção de biodiesel, álcool e agora também a entrada do H-Bio (mistura de óleo vegetal ao diesel), o País se tornará uma potência energética. ?Eu tenho dito e repetido várias vezes que o Brasil no século 21 será a maior potência energética do planeta?, destacou.

Biodiesel

Lula salientou que ?a extração do biodiesel da mamona, do óleo de dendê, do girassol, do caroço de algodão e da soja vai permitir que se tenha um aumento de produtividade no campo, que a gente tenha uma garantia efetiva de tranqüilidade para os produtores dessas oleaginosas e que a Petrobras assuma definitivamente a responsabilidade de cuidar não apenas do petróleo, mas de cuidar também dessas outras coisas que significam energia e soberania para o Brasil?.

O presidente também admitiu que o Pais poderá usar mais de um milhão de toneladas na produção do biodiesel. ?Eu acho que nós vamos utilizar muito mais do que isso, porque vai chegar o momento em que nós estaremos misturando o óleo porque nos interessa deixar de importar óleo diesel?.

Segundo Lula, o diesel brasileiro será de melhor qualidade porque será refinado junto com o petróleo. ?Pode baratear o preço para o consumidor, pode dar aos produtores de soja, de mamona uma certa garantia de mercado. Ou seja, não ficam dependendo apenas das exportações. Nós poderemos vender esse óleo para outros países e nós poderemos consumir muito mais internamente?.

Empresa anuncia que está fora da licitação para ampliar gasoduto

Rio (AE) – O diretor-superintendente da Transportadora Brasil Bolívia (TBG), José Zonis, responsável pelo gasoduto que liga os dois países, disse ontem que a empresa encaminhou à Agência Nacional do Petróleo (ANP) pedido de cancelamento da licitação que visava ampliar o duto. A possibilidade já está sendo estudada pela reguladora desde a semana passada.

Segundo ele, com a retirada das propostas da Petrobras, Repsol e Total, a licitação ?perdeu o sentido?. Zonis não vê motivos para que seja acatado o pedido de outras duas empresas, a Pan Energy e a BG, de um prazo de 180 dias para que fosse analisada com cautela a situação da Bolívia e só depois disso houvesse uma definição a respeito do processo licitatório. ?Não há um porquê neste adiamento. Suspendendo a licitação, podemos colocá-la na praça novamente se a situação mudar. Se adiarmos e retomarmos lá na frente, o processo licitatório ficará restrito apenas a estas duas empresas, diminuindo a concorrência?, afirmou em entrevista após participar de evento no Clube de Engenharia, para discutir a questão do gás no Brasil.

Segundo ele, a TBG está blindada contra problemas decorrentes do decreto boliviano, porque tem um contrato de transporte de toda a capacidade de gasoduto com a Petrobras, que vale até 2019. Pelo contrato, a estatal paga US$ 1,70 por milhão de BTUs de gás natural transportados. A TBG, disse Zonis, deve reverter no próximo ano seu patrimônio líquido e começar a ter lucro com a operação. Até então, a empresa estava apenas amortizando os investimentos de US$ 2 bilhões feitos no gasoduto, que começou a operar em 1997.

Gabrielli prevê auto-suficiência em gás natural até 2008

Rio (AE) – O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, prevê que, em dois anos, o Brasil atingirá a ?auto-suficiência na produção de gás natural?, com um acréscimo de mais 24 milhões de metros cúbicos diários na produção. Este volume é praticamente igual ao total importado pelo Brasil da Bolívia atualmente.

Gabrielli afirmou que a estatal continua negociando com a Bolívia. ?Não vamos ficar negociando pela imprensa. Mas, toda a semana, os grupos de trabalho (criados na reunião que ocorreu no dia 10 em La Paz) se reúnem em busca de soluções.? Mas frisou que as negociações devem ser pautadas pelos acordos assinados entre as partes. ?Nós temos um acordo que vai até 2019. Nós estamos querendo cumprir esse acordo.?

Na palestra na Câmara Britânica de Comércio, Gabrielli detalhou o programa de investimentos que a Petrobras está desenvolvendo até 2010. A estimativa é investir em torno de US$ 11 bilhões a cada ano, nos próximos cinco anos.

Em entrevista logo após a palestra, Gabrielli ressaltou que a estatal está trabalhando simultaneamente em diversos projetos para ampliar a oferta de gás no mercado interno.

A empresa vai ampliar os investimentos para a produção de gás natural na Bacia do Espírito Santo e retardar a exploração do gás na Bacia de Santos, especialmente no campo de mexilhão. Gabrielli disse que esse redirecionamento resulta de novas descobertas da empresa na bacia capixaba.

Além disso, a empresa tem tido dificuldades para afretar navios para lançamento de cabos necessários à exploração do gás natural em Santos. ?São poucos navios no mundo que fazem esse trabalho (lançamento de cabos em águas profundas), e a Petrobras só está conseguindo afretar navio para Santos, para o segundo semestre de 2008?, complementou.

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