O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou em discurso nesta sexta-feira, 30, que o Brasil está menos vulnerável a choques externos e internos por ter amortecedores “robustos”. Em evento do Grupo Estado, o dirigente disse que o BC encara o momento atual de crise política com “serenidade” e ressaltou que a ampliação do prazo de validade da meta de inflação anunciada esta semana vai permitir juros menores de longo prazo.

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“Hoje vivemos uma situação econômica capaz de absorver choques”, disse Ilan, destacando a melhora do balanço de pagamentos do Brasil e os US$ 375 bilhões das reservas internacionais. Além disso, o regime de câmbio flutuante garante a primeira linha de defesa do País e o BC atua ainda em outras frentes, como o programa de swap cambial. “Isso nos dá conforto para suavizar os choques que venham por aí. Não vai ter nenhum problema no funcionamento do mercado, nenhuma descontinuidade.”

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Nas últimas semanas, desde a delação da JBS, o ambiente de crise política provocou aumento da incerteza na economia, observou Ilan. Como consequência, cresceram as dúvidas sobre o andamento das reformas e a implementação dos ajustes econômicos. Mesmo assim, o dirigente ressaltou que o BC encara o momento com serenidade. Nesta sexta, Ilan afirmou que permanece no governo mesmo que haja troca de comando no Planalto.

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O discurso de Ilan durou cerca de 40 minutos e o dirigente falou pela primeira vez das mudanças da meta de inflação, anunciadas na quinta-feira. O governo reduziu o referencial para 4,25% em 2019 e 4% em 2020, além de ampliar o prazo de validade da meta para 3 anos. A experiência internacional mostra que outros mercados têm prazos longos para a meta, disse Ilan, citando Estados Unidos e Banco Central Europeu, onde não há uma data de validade.

Juros

Por isso, o Brasil também tentou ampliar o prazo de validade da meta, em vez de decidir a cada dois anos, o referencial agora vale para três anos. “Essa mudança pode parecer pequena, mas não é”, afirmou o presidente do BC, destacando que a decisão alonga o horizonte que as pessoas olham. Assim, com expectativas de inflação ancoradas em patamares mais baixos, a economia pode almejar juros de longo prazo mais baixos. “Se a meta é crível, ela faz o juro longo cair.”

A meta de inflação de 2020 foi fixada em 4% e o presidente do BC ressaltou que a mudança está sendo feita de forma “gradual, consistente e serena”. “Se fizéssemos algo diferente, elevaríamos as expectativas de inflação”, disse ele, destacando que isto é a última coisa que o BC quer. Já no caso de 2019, o novo referencial foi definido “exatamente onde as expectativas estavam”, que era de 4,25%.

Foram mudanças na política econômica nos últimos meses, durante o governo de Michel Temer, que criaram condições para a queda da inflação e permitiram a redução da meta, afirmou Ilan em seu discurso. Um dos fatores positivos mencionados foi a queda da taxa real de juros, quando se desconta a inflação. O indicador hoje está na casa dos 4,5%, o menor patamar que o País teve em décadas, apesar de ainda estar alto na comparação internacional. Nos anos 90, o juro real superou os 20%, caindo para a casa dos 10% na década seguinte.

Ilan destacou que a taxa básica de juros, a Selic, está em processo de queda, já recuou 400 pontos-base nos últimos meses e há a expectativa de reduções adicionais à frente. Sobre o cenário internacional, Ilan ressaltou que o ambiente continua sendo favorável para o Brasil. O capital segue migrando para mercados emergentes e as incertezas sobre eleições em países importantes se reduziram. “No entanto sempre tem riscos e não podemos assumir que o cenário vai ficar favorável para sempre.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.