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Foto: Arquivo/O Estado

Lula com o presidente Alan García: ações na defesa de interesses comuns.

A passagem do presidente peruano Alan García pelo Brasil resultou na assinatura de 12 acordos bilaterais. Os documentos prevêem uma série de ações mútuas entre os dois países nos setores energético, social, educacional, científico, de defesa e de saúde. Os acordos foram firmados ontem, ao fim da visita de García ao Palácio do Planalto, em Brasília.

Na avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o compromisso associa o destino de duas nações vizinhas e amigas. ?Eu nunca tinha visto a quantidade de acordos assinados com um só país?, afirmou. ?Nosso desafio é criar os meios para garantir que nossas decisões sejam implementadas.?

Um dos principais acordos é a declaração conjunta de cooperação sobre vigilância na Amazônia. Pelo acerto, o Brasil e o Peru decidiram criar um grupo de trabalho binacional para iniciar o processo de integração do país vizinho ao Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam).

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Os ministros de Relações Exteriores e da Defesa dos dois países assinaram, ainda, um acordo-quadro para a estimular a troca de informações de inteligência estratégica entre os organismos de defesa do Brasil e do Peru. O objetivo, conforme o documento, é desenvolver uma visão compartilhada de defesa e integrar interesses comuns entre as duas nações.

Na solenidade, também foi assinado um memorando para a formação de uma comissão mista de cooperação nas áreas energética, geológica e de mineração. A comissão promoverá ações comuns na pesquisa e exploração do petróleo, do gás natural e de fontes alternativas de energia, além de apoiar a participação de empresas dos dois países em empreendimentos e atividades comerciais.

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Na área social, foram firmados três acordos que prevêem o intercâmbio de experiências nos programas sociais dos governos brasileiro e peruano. Os dois países se comprometeram a desenvolver estratégias conjuntas para a redução da pobreza.

?Vamos trocar experiências bem-sucedidas na área social, como o [programa] Bolsa Família, do Brasil, e o Juntos, do Peru?, explicou Lula.

Os acertos prevêem o envio de técnicos brasileiros ao país vizinho para atividades de capacitação de técnicos peruanos. Um convênio entre o Ministério do Desenvolvimento Social e a pasta correspondente no governo peruano cria condições para a cooperação.

Para Alan García, a ajuda do governo brasileiro é essencial para ajudar na distribuição de renda em seu país. ?Estamos dando passos fundamentais na política social, mas temos muito o que aprender com os exemplos do Bolsa Família e o crédito consignado, que ainda temos de colocar em prática no nosso país?, declarou o presidente peruano.

Brasil e Peru também se comprometeram a desenvolver ações conjuntas na área da saúde, como atividades recíprocas de auxílio técnico, com prioridade ao combate a uma eventual pandemia de gripe e a prevenção e o controle da aids.

Os governos também firmaram um acordo para promover o ensino de espanhol no Brasil e do português no Peru, com ênfase nas áreas de fronteira.

Por fim, os dois países assinaram um memorando de cooperação na área de biotecnologia, com entrada dos dois governos no consórcio internacional para o seqüenciamento do genoma da batata.

América do Sul não tem uma ?saída unilateral?

Brasília (ABr) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a cooperação bilateral entre o Brasil e o Peru demonstra que os dois países estão convencidos de que não há saída individual para nenhum país da América do Sul.

Lula voltou a afirmar que, quanto mais os países sul-americanos trabalharem juntos, mais chances haverá de enfrentar o mundo globalizado, em que os países ricos ?sempre têm levado vantagens sobre os países pobres?.

?Teremos a chance de ter mais quatro anos de convivência como governantes dos nossos países, de fazer evoluir não apenas a relação Peru e Brasil, mas a relação na construção da Comunidade Sul-Americana de Nações, o fortalecimento do Mercosul e o fortalecimento de mecanismos e instrumentos multilaterais que possam garantir que nós não fomos apenas mais um presidente peruano ou mais um presidente brasileiro?.

As declarações de Lula foram dadas durante a cerimônia em que os governos brasileiro e peruano assinaram 12 acordos nas áreas de defesa, desenvolvimento social, energia, saúde, educação e cooperação técnica. Além do presidente do Peru, Alan García, participaram da solenidade sete ministros que integram a comitiva peruana.

Segundo Lula, a viagem de García ao Brasil dá continuidade ?ao diálogo construtivo e mutuamente proveitoso? entre os dois países.

Essa foi a primeira visita de um chefe de Estado ao Brasil depois da reeleição de Lula, e a segunda que García faz ao país depois de ter sido eleito para o segundo mandato, em junho deste ano. Em julho, Lula participou da posse de García, que assumiu a presidência em substituição a Alejandro Toledo.

No discurso, Lula disse que os dois países devem aprender com as virtudes e os erros ocorridos no século 20 para poder, neste século, concretizar o ?sonho da integração?.

?Sobretudo, concretizar o sonho, a aspiração e a esperança de milhões e milhões de peruanos e brasileiros que ainda precisam de um Estado forte, de um Estado indutor, para que possamos acabar com a pobreza nos nossos países e no nosso continente.?

O presidente acrescentou ter a ?convicção? de que com a chegada de García ao governo do Peru, ambos os países possam aprender com os erros um do outro. ?Para que a gente possa corrigir e acertar muito mais do que errar, porque o povo nos deu uma chance e eu acho que nós precisamos concretizar essa chance na realização do sonho do povo peruano e do povo brasileiro.?

Para Lula, essa concretização se traduz em ?mais desenvolvimento, mais emprego, mais política educacional, e, sobretudo, mais política social?.