Numa troca de críticas em plena reunião oficial da Organização Mundial do Comércio (OMC), as delegações de Brasil e EUA deixaram claro nesta quarta-feira, 27, o desentendimento que o comércio de aço está provocando entre os principais atores do mercado.

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O governo brasileiro pediu para incluir na agenda da entidade um debate sobre o fato de o governo dos EUA ter implementado barreiras contra as exportações de aço do País. Com taxas variando de 20% a 35%, as medidas americanas praticamente fecharam o mercado dos EUA para alguns dos exportadores nacionais.

As taxas foram impostas depois que os americanos passaram a investigar 32 programas de apoio no Brasil ao setor siderúrgico, número que acabou sendo reduzido para seis programas.

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Ao tomar a palavra, a delegação brasileira afirmou estar “preocupada” diante da iniciativa americana, alertou que não entende até agora qual das regras da OMC violou para justificar as barreiras e garantiu que o setor siderúrgico nacional “não é subsidiado”.

Para provar isso, o Brasil apontou que informações colhidas em websites comprovariam que as empresas nacionais não estariam sendo apoiadas por recursos públicos.

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Mas Brasília foi surpreendida por uma atitude do governo americano de recusar a ofensiva brasileira. A delegação de Washington alegou que as informações apresentadas pelos brasileiros “não eram corretas”.

Fofocas

Os diplomatas americanos chegaram a chamar os sites mencionados pelo Brasil de “websites de fofocas” e garante que as investigações sobre as práticas comerciais brasileiras foram iniciadas por conta de “provas” que teriam sido coletadas pelos americanos. “Temos regras e provas para justificar a investigação”, respondeu a delegação americana.

Tomando uma vez mais a palavra, o governo brasileiro insistiu que o IPI não é um subsídio. Mas a tese foi rejeitada por Washington. “Temos evidências de que sim esse é programa de subsídios”, respondeu a delegação dos EUA.

A troca de acusações, porém, não foi a única a dominar a reunião da OMC. O excedente na produção de aço pelo mundo fez o Brasil e diversos outros países soarem o alerta em relação às diferentes respostas de governos, subindo tarifas de importação e aplicando barreiras.

China e Rússia, por exemplo, acusaram a UE de estar proliferando medidas de antidumping no setor do aço. O Brasil ainda criticou novas investigações lançadas pelos sul-africanos.

Os americanos também se lançaram em uma dura crítica contra a falta de informação prestada pela China sobre a quantidade de programas de apoio de Pequim ao setor do aço. Segundo os americanos, desde a entrada da China na OMC em 2001, apenas em três ocasiões Pequim notificou seus planos de subsídios, uma exigência das regras internacionais.

Para os EUA, porém, a China conta com “centenas de programas de subsídios” que jamais são informados. Segundo Washington, só a empresa Hebei Iron estaria sendo beneficiada por 85 programas diferentes de ajuda, incluindo desde tratamento de água a formas de reduzir gastos de energia e tecnologia.

O maior exportador de aço do mundo, porém, afirmou que não teria como dar valores sobre quanto destina a suas empresas chinesas e culpou o excedente global de produção como motivo da crise diplomática na OMC. Para Pequim, a entidade não é o local onde esse assunto deva ser tratado.

Na semana passada, porém, uma reunião na OCDE para lidar com a crise terminou em fracasso. Hoje, o excedente na produção mundial é de 657 milhões de toneladas.

Ao mesmo tempo que isso é registrado, Mitsuhiro Fukuyama, presidente do Comitê de Salvaguardas da OMC, indicou que apenas 29% dos programas de subsídios no mundo foram declarados pelos governos em 2015 e que o número de casos de antidumping passou de 23 em 2014 para 41 no ano passado. Para a China, o “risco do protecionismo é real”.

Avião

Além do setor do aço, o Brasil ainda protestou nesta quarta-feira por conta da falta de transparência do Japão em seus programas de apoio para a construção de novos jatos que possam competir com a Embraer. Segundo Brasília, Tóquio se recusa a dar respostas sobre como ocorre o financiamento das empresas do setor.

O Brasil ainda pediu explicações sobre os programas e quais empresas se beneficiam para criar uma nova geração de aviões. O Itamaraty também pediu esclarecimentos sobre o papel do Banco de Desenvolvimento do Japão.

O caso envolve o dinheiro concedido pelo governo à Mitsubishi, que está desenvolvendo a linha de jatos Mitsubishi Regional Jet. Segundo o Itamaraty, cerca de 3 bilhões de ienes foram destinados a um programa para pesquisa e desenvolvimento de eficiência na aviação. A suspeita é de que esses recursos seriam subsídios ilegais e violariam as regras da OMC. Isso porque, ao receber essa ajuda, os jatos japoneses estariam concorrendo no mercado internacional em melhores condições que a Embraer.

Sobre os programas não notificados, a diplomacia japonesa apenas indicou que eles se referem a financiamento para a pesquisa e que não são destinados a uma empresa específica, o que ficaria isento de obrigações de transparência na OMC.

Se Brasil e Canadá dominavam o mercado de jatos regionais, os japoneses entraram com força para romper esse controle. O modelo de Tóquio já conta com 223 encomendas. A americana SkyWest, por exemplo, fez uma encomenda de 100 jatos, com opção para mais 100. A meta do Japão é controlar 20% do mercado mundial desse segmento e, assim, recuperar investimentos de US$ 1,5 bilhão gastos no desenvolvimento do modelo.

De acordo com a Mitsubishi, seu novo modelo é 20% mais eficiente em termos de consumo de combustível que a média do segmento. O jato também seria mais silencioso que os concorrentes, segundo a empresa. Aguardado como o “jato regional mais confortável do mundo”, o Mitsubishi Regional Jet ainda promete uma redução significativa de poluentes.