Brasil e Argentina discutirão integração produtiva

Sem um acordo sobre a eliminação das barreiras comerciais, os governos da Argentina e Brasil anunciaram uma reunião nos próximos dias 18 e 19 de fevereiro para aprofundar as discussões sobre a integração das cadeias produtivas de alguns setores.

Segundo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Miguel Jorge, os primeiros setores a serem avaliados serão a indústria naval, metal-mecânica, autopeças, petróleo e gás e têxtil.

“Há 20 anos eu discutia a integração produtiva com a Argentina e isso nunca ocorreu. Agora temos as condições para que isso comece a acontecer de maneira real”, disse ele após a reunião ministerial, realizada nesta sexta-feira em Buenos Aires, da qual participaram também os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Guido Mantega (Fazenda), com seus pares argentinos: Débora Giorgi, Jorge Taiana e Amado Boudou.

Miguel Jorge explicou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) será um instrumento importante para essa integração, com a concessão de financiamentos para os projetos entre as empresas brasileiras e argentinas.

O próximo financiamento do BNDES será para a importação brasileira de caminhões argentinos, montados com peças brasileiras. “Ajustamos com o BNDES os últimos aspectos para conseguir financiamento dos caminhões produzidos da Argentina e o Brasil fez um esforço em matéria de redução de exigências de conteúdo”, destacou a ministra Giorgi, sem detalhar o porcentual acertado.

Ontem, o vice-presidente do BNDES, Armando Mariante, disse aos jornalistas brasileiros que um nível “razoável de conteúdo nacional seria de 40%”. No balanço final de três dias de reuniões técnicas e ministeriais, o resultado é de que a relação entre os dois países “é muito boa”, segundo manifestaram os seis ministros. “Estamos em um ambiente positivo”, disse Taiana.

Para Amorim, a reunião foi um “sucesso” e buscou soluções criativas para os problemas. “Estamos olhando mais o futuro que o passado”, disse entusiasmado. Mantega, por sua vez, destacou que “a boa notícia é que as duas economias já estão crescendo a uma taxa mais favorável, mais expressiva que as economias europeia e a americana, e estimamos que podemos crescer, tanto Brasil quanto na Argentina, mais de 5% em 2010, o que implicará na restituição de todo o fluxo de comércio entre os dois países”.

O ministro do Desenvolvimento, por outro lado, depois de apresentar como um avanço a decisão dos dois países de realizar missões conjuntas para mercados não tradicionais como África e Caribe, reconheceu que a conversa sobre as barreiras comerciais foi longa.

“Tivemos uma longa conversa com a ministra Giorgi e vamos discutir alguma flexibilização e redução dos prazos, caso a caso”, relatou Miguel Jorge, afirmando que o Brasil reconhece o enorme avanço na liberação das licenças a partir da reunião que ambos os presidentes, Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner, tiveram no ano passado.

Dentro do clima otimista, Jorge chegou a dizer que a reunião entre os presidentes evitou que as licenças não automáticas “se transformassem em um problema para os dois países”.

Uma percepção muito diferente da que têm os empresários brasileiros, prejudicados pelas barreiras argentinas. Contudo, Jorge sinalizou aos argentinos que o governo brasileiro não está disposto a avalizar novos acordos de autolimitação das exportações brasileiras para o país vizinho.

“Os empresários são os que deverão fazer acordos setoriais. O governo brasileiro não participa destes acordos”, disse ele. O ministro também destacou que em quase todos os setores a Argentina está se obedecendo ao prazo máximo de 60 dias para a concessão das licenças, mas citou que ainda existem reclamações dos fabricantes de freios, embreagens e baterias.

Miguel Jorge afirmou que não tem recebido nenhuma reclamação de empresários brasileiros sobre as barreiras do sócio. “Recebi muitas reclamações dos empresários sobre os problemas gerados pelas licenças não automáticas da Argentina, no primeiro semestre, mas depois da reunião de novembro, quando decidimos atacar os problemas e liberar as licenças, houve uma liberação dos produtos. Depois disso, não tive nenhum grupo de empresários reclamando nesse ano”, afirmou. Para completar, Miguel Jorge disse que “procurará saber quem está reclamando”.

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