Como forma de evitar a alta volatilidade do preço do álcool combustível, agravada nos últimos meses pela oferta apertada do produto, o país deve formar, este ano, um grande estoque regulador. Para financiar a formação desses estoques, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve disponibilizar cerca de R$ 2,5 bilhões, informou à Agência Brasil o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.
“A partir de abril ou maio o mercado deve se regularizar e acredita-se que venha a sobrar etanol, mesmo que a demanda de açúcar continue forte e que haja a possibilidade de fazer a estocagem, porque deve haver excesso de produção”, afirmou.
Segundo o ministro, as chuvas que prejudicaram a colheita e a qualidade da cana-de-açúcar no final de 2009 contribuirão para uma produção recorde este ano.
Em 2009, os recursos para estocagem já haviam sido ofertados pelo BNDES, mas não houve sobra de etanol. Na época, o montante era suficiente para financiar o armazenamento de aproximadamente 5 bilhões de litros de combustível, o equivalente a mais de três meses de consumo.
“É bom ter essa margem. Neste momento, não é que está faltando álcool, mas como a margem está muito apertada, quando a oferta e a demanda estão extremamente ajustadas, o preço às vezes sobe 20% ou 30%”, afirmou Stephanes.
Atualmente, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), apenas no estado de Mato Grosso é vantajoso abastecer os carros flex com etanol. Há seis meses, quando o preço atingiu um patamar de equilíbio, segundo os próprios representantes do setor, após depreciação em consequência da crise mundial, o combustível era competitivo em 21 estados e no Distrito Federal.
Assim como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro disse que o setor deve se planejar para que a situação atual não se repita.
“Tem que haver compromisso. O mercado interno é quem sustenta a indústria do etanol, e há um consumidor a quem se deve lealdade. Quando o preço sobe acima do adequado, significa que não se está sendo muito correto com o cliente. Claro que nesse caso houve um fenômeno anormal que foi o excesso de chuvas no período, mas de qualquer forma, deve-se planejar para evitar isso no futuro.”
De acordo com Stephanes, os financiamentos para estocagem devem ser liberados apenas no segundo semestre, com a condição de que os preços tenham retornado a um nível adequado, quando na maioria dos estados seja vantajoso abastecer com etanol.
Outras medidas que também podem reduzir as oscilações no valor do combustível, segundo o ministro, são a regulação do mercado no sentido de consolidar as compras futuras, com prazos de até dois anos, para que haja uma certa garantia no preço de fornecimento, e a liberação da alíquota para importação de etanol, atualmente em 20%.
“Nesse momento, por exemplo, tudo indica que, ao preço que chegou, compensaria importar. Eu acho que deveria zerar a alíquota e, quando o preço atingisse determinado patamar, o mercado importa”, afirmou Stephanes.
Segundo ele, essa medida também teria um “valor simbólico” no sentido de ajudar nas negociações internacionais para liberar mais o mercado de etanol.
Essas questões serão discutidas, de acordo com Stephanes, na próxima terça-feira (26), em São Paulo, em uma reunião entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, representantes do Ministério da Agricultura e da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).