Após dois dias de intensas negociações, os representantes do governo brasileiro conseguiram ontem arrancar do governo da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, apenas uma promessa de suavização das barreiras comerciais aplicadas contra a entrada de produtos do Brasil no mercado argentino.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Miguel Jorge, sustentou durante uma coletiva, após o encerramento das reuniões bilaterais, que em breve ambos governos discutirão uma “flexibilização possível” e uma “redução dos prazos” na concessão das licenças não-automáticas aplicadas pela Argentina. “Não definimos os setores que serão objeto de flexibilidades. Estudaremos caso por caso. Será um processo de conversas e negociações.”
Mais de 400 produtos brasileiros sofrem a aplicação dessas licenças. Além dessas barreiras, o governo Kirchner também aplica outras modalidades de obstáculos, entre os quais os valores-critério, medidas antidumping e os acordos “voluntários” de autolimitação de exportações para o mercado argentino, onde industriais constantemente reclamam das hipotéticas invasões de produtos do Brasil.
No total, 17,3% das vendas brasileiras para a Argentina sofrem algum tipo de restrição. O chanceler Celso Amorim disse que as negociações entre os dois países estão encontrando “soluções criativas” para as divergências comerciais. Segundo Amorim, “estamos olhando mais para o futuro do que para o passado”. O encontro em Buenos Aires consistiu em uma reunião denominada de “tri-ministerial” (por juntar três pastas de cada governo), que será realizada a cada 45 dias. Do lado brasileiro, além de Miguel Jorge e Celso Amorim, participou também do encontro o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Do lado argentino participaram o chanceler Jorge Taiana, a ministra da Produção, Debora Giorgi, e o ministro da Economia, Amado Boudou.