Após um jejum de mais de cinco meses, o Brasil voltou ontem a vender bônus global no exterior e captou US$ 750 milhões com o lançamento de títulos de cinco anos. Inicialmente, a intenção era ofertar só US$ 500 milhões, mas o valor da operação foi elevado devido à maior procura dos investidores pelos papéis, estimada em US$ 2 bilhões.
A operação foi liderada pelos bancos americanos Goldman Sachs e Merrill Lynch. Os rumores de uma nova emissão circulavam desde o início do mês. Esse tipo de operação costuma vazar, porque, antes do anúncio, o BC sonda o interesse dos potenciais compradores dos bônus.
Com vencimento em 29 de junho de 2009, os títulos foram vendidos com uma taxa de juro flutuante, o que não acontecia desde 1994.
O bônus saiu com um cupom (juro nominal) flutuante que corresponde a 575 pontos (5,75% ao ano) mais a Libor (taxa interbancária londrina) de três meses. O novo título foi colocado ao preço de 99,245% do seu valor de face. O “spread” final ficou em 593 pontos acima da Libor.
Com essa emissão, o Brasil já captou neste ano US$ 2,250 bilhões no mercado global – outro US$ 1,5 bilhão já tinha sido captados em 2003 para fazer frente às necessidades deste ano.
O Brasil pretende captar em 2004 US$ 5,5 bilhões incluído o US$ 1,5 bilhão da operação realizada em 2003. Com a operação de hoje, resta US$ 1,750 bilhão para ser emitido ainda em 2004.
No último dia 12 de janeiro, o País havia captado US$ 1,5 bilhão com emissão de papéis com prazo de 30 anos. Pelo empréstimo, o País pagará juros de 8,75% ao ano, a menor taxa paga pelo governo desde a reestruturação da dívida brasileira, em 1994.
Na última emissão, em janeiro, o risco-Brasil rondava 400 pontos e refletia a euforia externa com os emergentes. Em fevereiro, o caso Waldomiro fez eclodir o risco político. Nos meses seguintes, o receio de juro maior dos EUA “estragou” a festa dos emergentes.
Ontem o risco brasileiro caiu 2,26%, aos 648 pontos. O indicador está nesse patamar mais elevado, segundo analistas, por refletir a expectativa de alta do juro nos EUA na virada do mês, questões geopolíticas, como o terrorismo, citadas como fator para a recente subida do petróleo, além dos últimos “reveses” do governo Lula no Congresso devido a divergências na base aliada.