O Brasil quer recuperar o espaço perdido nas relações comercias com os países árabes nos últimos dez anos, depois da primeira Guerra do Golfo. Em 1990, a corrente de comércio com o Oriente Médio era de US$ 5 bilhões, com déficit brasileiro de US$ 2,89 bilhões. O intercâmbio comercial caiu pela metade ao longo daquela década, chegando, em 1999, a US$ 2,5 bilhões. O fluxo voltou a crescer lentamente a partir do ano 2000, fechando 2004 em US$ 5,9 bilhões, com superávit brasileiro de US$ 1,37 bilhão. O assunto será o destaque principal na Cúpula América do Sul – Países Árabes, que começa hoje em Brasília.
Considerando-se o intercâmbio com os 22 países da Liga Árabe, o volume de trocas também atingiu seu ápice em 1990, com US$ 4,19 bilhões e déficit de US$ 2,26 bi para o Brasil. O fluxo oscilou nos 10 anos seguintes, chegando a 2000 em US$ 4,38 bilhões (a balança comercial continuava deficitária para o Brasil em US$ 1,38 bilhão). Em 2003, pela primeira vez a corrente comercial entre Brasil e árabes ultrapassou a casa dos US$ 5 bilhões, saltando para US$ 8,1 bilhões no ano passado. ?Podemos duplicar esse valor até 2007?, disse o ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Furlan.
Os principais produtos embarcados para os árabes em 2004 foram açúcar, carne de frango e de gado congelada, minérios de ferro, trigo, e óleos brutos de petróleo. Além dos produtos tradicionais, a pauta de exportações diversificou-se em 2004. Segundo dados da CCAB, houve 236 novos produtos passaram a integrar a pauta de exportações à Liga, que conta com aproximadamente 1900 itens.
Ontem, em encontro preparatório, o secretário-geral do Conselho de Cooperação do Golfo Abdul Rahman Al-Attiyah, disse que as relações econômicas entre América do Sul e países árabes ainda não refletem as oportunidades comerciais existentes. Al-Attiyah também destacou que a globalização da economia pode favorecer o desenvolvimento dos mercados. Como representante do Golfo, Al-Attiyah convidou os investidores a aplicar recursos na região.
O Brasil vendeu desde ônibus (US$ 29 milhões) a produtos de confeitaria (US$ 5,9 milhões) para os países árabes. Segundo levantamento da CCAB, praticamente todos os estados brasileiros (exceção de Acre e Sergipe) exportaram produtos para a região em 2004, com destaque para São Paulo (US$ 1,6 bilhão), Rio Grande do Sul (US$ 515 milhões), Paraná (US$ 497 milhões), Minas Gerais (US$ 336 milhões), Espírito Santo (US$ 308 milhões) e Santa Catarina (US$ 170 milhões), que corresponderam juntos a 88% das exportações à Liga.
Os principais destinos de produtos brasileiros foram Arábia Saudita, que absorveu 20% do total exportado à Liga ou US$ 825 milhões (o país é grande importador de carne de frango, carne bovina e minério de ferro do Brasil), Emirados Árabes Unidos (com US$ 706 milhões, especialmente em importações de açúcar e carne de frango brasileiros), Egito (US$ 623 milhões), Marrocos (US$ 348 milhões) e Argélia (US$ 348 milhões). De acordo com o MDIC, 1.005 empresas brasileiras exportaram para os 22 países da Liga árabe em 2004 destas, 184 eram estreantes, sendo grande parte delas de pequeno e médio portes.
A pauta de importações continuou bastante concentrada em 2004. O petróleo responde por 75% das vendas árabes para o Brasil (US$ 3,011 bilhões). Outros itens importantes são óleo diesel (US$ 375 milhões) e naftas para a petroquímica (US$ 344 milhões). Os produtos são oriundos, principalmente, da Argélia (US$ 1,9 bilhão), Arábia Saudita (US$ 1,2 bilhão) e Iraque (US$ 473 milhões).
Argentinos aproveitam para criticar o Mercosul
Empresários argentinos devem aproveitar a reunião de cúpula entre América do Sul e Países Árabes, que acontece em Brasília até amanhã, para dar um duro recado para autoridades brasileiras. Segundo o site do jornal argentino Clarín, os empresários ligados à UIA (União Industrial Argentina) dirão que ?o Mercosul assim (como está) não é viável?.
Ontem à tarde, representantes do empresariado argentino estiveram reunidos com os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). Após à série de críticas argentinas à política externa brasileira divulgadas na semana passada, Amorim adotou um tom bastante conciliador com o país vizinho. À noite o encontro previsto era entre os presidentes Lula e Kirchner, da Argentina.
Em declarações ao jornal La Nacion e à imprensa brasileira, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que o assunto (os atritos entre Brasil e Argentina) foi exagerado pela imprensa. ?A Argentina é absolutamente prioritária em nossas relações exteriores (…). Acho que houve um problema de compreensão. Ninguém é perfeito?, disse Amorim.
Já Furlan, segundo reportagem publicadas pela imprensa nos últimos dias, seria favorável ao endurecimento das relações comerciais com a Argentina para defender o interesse de empresários brasileiros.
Além de encontrar com empresários argentinos, autoridades brasileiras também conversarão com membros da cúpula do governo do país vizinho.
O subsecretário de Integração Econômica da Argentina, Eduardo Sigal, antecipou que o governo argentino vai defender em Brasília a necessidade de mecanismos para conter desequilíbrios no comércio regional – no ano passado o Brasil teve superávit com o país vizinho.
Acordo pode gerar zona de livre comércio
Os países do Mercosul devem assinar durante a Cúpula América do Sul Países Árabes, acordo com o Conselho de Cooperação do Golfo, do qual fazem parte Omã, Arábia Saudita, Bareine, Catar, Emirados Árabes e Kuaite. Segundo o diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, Mário Vilalva, a idéia é estabelecer uma zona de livre comércio entre os dois blocos. Vilalva disse que os países do Golfo estão com excelente capital e investem tradicionalmente em infra-estrutura, energia e turismo.
Vilalva afirmou que o encontro será importante para conhecer as pessoas e estabelecer negócios futuros. ?Não queremos fazer um encontro para vender ou comprar, mas para estabelecer uma rede?, disse. Segundo ele, o governo brasileiro quer ampliar os negócios com governos árabes. No ano passado, o intercâmbio comercial entre Brasil e países árabes foi de US$ 8,2 bilhões, 50% a mais que em 2003. Segundo o diretor, a intenção é ampliar esse valor em dois anos para US$ 15 bilhões.
Mário Vilalva informou que está prevista a participação de 1.050 empresários no encontro, entre eles 250 árabes e 300 sul-americanos.