Brasil avança para liderar o cultivo mundial de alimentos

Em menos de dez anos, o Brasil deverá se tornar o maior produtor mundial de alimentos. Só na próxima safra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), devem ser colhidos mais de 144 milhões de toneladas.

Mas, para que o País atinja a liderança, será necessário investir em sistemas agrícolas embasados na preservação e recuperação do solo, que possibilitem aumento de produtividade e redução de custos. E são esses desafios que contemplam o uso do solo com eficiência e qualidade ambiental, que os produtores precisam vencer.

Segundo o professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e presidente da Comissão de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Paulo Roberto Ernani, para atingir essa eficiência na propriedade é preciso investir em pesquisas e fazer com que estas cheguem até os agricultores.

“Hoje nós procuramos produzir um produto de qualidade, com um custo mais baixo, para nos tornarmos competitivos. Mas o desafio é fazer isso ao mesmo tempo, sem ferir o meio ambiente e ter uma produção com cunho social”, pondera. Ernani ressalta que, como as reservas mundiais de fertilizantes são finitas, é preciso investir na utilização de nutrientes do próprio solo, materiais orgânicos e reciclados.

O pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Antônio Costa, ressalta que o Brasil já avançou muito na eficiência do aproveitamento de nutrientes, mas ainda continua errando ao adotar práticas que causam erosão, poluição e assoreamento de rios e mananciais.

Segundo ele, o Paraná sempre foi pioneiro na difusão de tecnologias voltadas à melhoria da produtividade com menor impacto ambiental. Entre elas, o plantio direto na palha, implantado na década de 70 e que hoje é adotado em mais de 50% das propriedades brasileiras. Costa destaca ainda a rotação de culturas, agricultura de precisão e integração lavoura-pecuária.

Lavoura-pecuária: bons resultados

A integração lavoura-pecuária é uma alternativa de aumento de produtividade para a agricultura e para a pecuária, ao mesmo tempo em que ajuda na recuperação de áreas degradadas.

A Cooperativa Coamo, de Campo Mourão, noroeste do Estado, tem desenvolvido pesquisas com a integração há nove anos, e obteve bons resultados no volume de carne e grãos por hectare.

O chefe da fazenda experimental, Joaquim Mariano Costa, comenta que, da área total de lavouras da cooperativa no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, estimada em 1,5 milhão de hectares, em cerca de 600 mil hectares os produtores fazem apenas a cobertura de inverno. Foi nessa área que se colocou o gado.

O resultado foi aumento de produtividade nas áreas integradas. A colheita de soja passou de 69 sacas por alqueire na área com gado contra 65 sacas onde não se colocava os animais.

Já no milho, o rendimento foi de 464 sacas por alqueire, contra 372 sacas na área sem os animais. E os animais, que normalmente perdem peso no inverno, tiveram um acréscimo de 400 quilos de peso vivo de carne por alqueire, em comparação com a pecuária clássica.

Outro sistema voltado para a melhoria da produtividade e menor impacto ambiental é a agricultura de precisão. Usando o Sistema de Posicionamento Global (GPS, na sigla em inglês) é possível traçar o perfil do solo e fazer as correções necessárias.

O sistema informa, por exemplo, o nível de fertilidade, qual tipo de cultivo mais adequado e qual o estágio de compactação da terra. Além de corrigir deficiências relacionadas à produtividade, o produtor maximiza os retornos através de aplicação precisa de insumos.

Plantio direto preserva nutrientes e evita desgastes

Divulgação
Pereira: técnica controlou erosão.

A técnica de cultivo do plantio direto na palha ajuda a conservar as características químicas, físicas e biológicas do solo, evitando o desgaste pela erosão hídrica e eólica.

O presidente da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha e pioneiro no sistema no Sul do Brasil, Manoel Henrique Pereira, diz que a técnica foi uma ferramenta importante para reverter fatores que limitavam o aumento da produção.

“Na década de 70, com o crescimento da produção de soja e do parque industrial, a demanda pelo uso do solo foi intensa. E com isso tivemos muitos problemas, principalmente de erosão.

O plantio direto mudou esse cenário, pois, além de controlar a erosão, não perdemos mais corretivos e tivemos uma redução no uso dos fertilizantes”,
explica Pereira.

Outra vantagem destacada pelo produtor é que a palha que fica no solo ajuda a reduzir a evaporação da água, além de gerar matéria orgânica. “Todos esses fatores juntos resultaram no aumento de produtividade”, complementa. Pereira confirma que em culturas como milho, feijão, soja e trigo é possível dobrar a produtividade com o uso do plantio direto.

Ele destaca que o sistema também é viável para outras culturas, incluindo hortaliças e tubérculos. Além disso, promove o seqüestro de carbono, favorece a rotação de culturas e promove a redução de custos com a mecanização e
aplicação de corretivos.

A federação difundiu o sistema para todo o Brasil e, hoje, é referência para outros países. Manoel Pereira conta que somente este ano já recebeu produtores da Ucrânia e Islândia interessados em adotar o plantio direto.

Apesar de todos os resultados reconhecidos, o produtor só lamenta que a técnica não seja difundida na maioria das universidades, o que faz com que essa tecnologia não chegue a todos os produtores.