Genebra (AE) – O Brasil considera suspender o acordo que tinha de não retaliar os Estados Unidos pelos subsídios ao algodão. Ontem, diplomatas dos dois países se reuniram em Genebra e o Brasil cobrou de Washington que cumpra a determinação da Organização Mundial do Comércio (OMC) de efetuar cortes nos subsídios ao algodão. A pressão brasileira ocorre no mesmo momento em que os Estados Unidos são cobrados a efetuar cortes em seus subsídios agrícolas nas negociações da Rodada Doha, que entra em sua fase decisiva.
No ano passado, o Brasil venceu uma das maiores disputas agrícolas já levadas à OMC. O Itamaraty alegava que, ao dar subsídios, os americanos afetavam a competitividade do produto nacional e ainda pressionavam para baixo os preços internacionais do algodão.
A OMC concordou e ordenou Washington a retirar os subsídios, o que não foi feito por mais de seis meses. O Brasil, como a lei permite, poderia ter já aplicado retaliações contra os americanos para puni-los. Mas o governo optou por fechar um entendimento com Washington para evitar as sanções. Os americanos se comprometiam a implementar a retirada dos subsídios.
?O problema é que, até agora, não temos visto medidas que visem a reforma no sistema de subsídios, nem a ajuda doméstica nem os subsídios à exportação. Sempre deixamos claro que o entendimento poderia ser revisto a qualquer momento. Os americanos sabem disso?, afirmou Clodoaldo Hugueney, embaixador do Brasil na OMC.
Na reunião de ontem, os diplomatas brasileiros pediram explicações sobre como os Estados Unidos farão para cortar os subsídios e acabar com os programas ilegais. ?Deixamos claro que o que estava sobre a mesa era insuficiente?, disse um diplomata brasileiro. Algumas informações foram dadas pelos americanos, mas muitos programas de subsídios, como o crédito à exportação, precisam primeiro passar por uma mudança de lei no Congresso dos Estados Unidos. Segundo os negociadores de Washington, não há como prever quando essa mudança legislativa ocorreria.
Frango
Ontem, na OMC, a União Européia (UE) ainda anunciou que estava reduzindo as barreiras tarifárias para o frango brasileiro. O Brasil havia recorrido à entidade para questionar medidas européias que aumentavam as tarifas de importação para o frango de 15% para mais de 70%. A OMC deu razão ao Brasil, o que obriga a UE a rever suas leis. ?Implementamos as determinações da OMC?, afirmou um diplomata europeu.
O Itamaraty, porém, foi cauteloso ao comentar a decisão européia, alegando que ainda precisará consultar o setor privado para confirmar se, de fato, a nova tarifa está sendo aplicada.