O país que está despertando cobiça em mercados do mundo todo parece não sensibilizar o Brasil, pelo menos no que diz respeito ao turismo. Pouco tem sido feito para atrair os turistas chineses a visitar os atrativos brasileiros. A opinião é do operador de turismo Alexandre da Mata, da Gladtur, operadora representante oficial do China Travel Service no Brasil e América do Sul.
Mesmo assim, os chineses tendem a desembarcar em maior número no Brasil, a partir do ano que vem. De acordo com uma estimativa da OMT (Organização Mundial do Turismo), cem mil chineses devem entrar no país ao longo de 2007, seja para negócios ou lazer. O número é exorbitante, tendo em vista que, no ano passado, foram apenas dezoito mil.
Um dos motivos dessa expectativa ousada é o amadurecimento do acordo entre os governos brasileiro e chinês, firmado em novembro de 2004, em que a China deu ao Brasil o status de destino aprovado (ADS). O ADS permite que empresas de turismo brasileiras formatem e vendam pacotes a chineses. Antes, a vinda deles aqui era permitida somente por meio de convite formal.
Falha na divulgação
Para Alexandre da Mata, a estimativa de entrada de chineses informada pela OMT é exagerada. ?Acredito que deve haver um aumento sim, mas para trinta mil pessoas?, pondera. Poderia ser mais, considera o operador, se o Brasil fosse melhor divulgado lá. ?Há cerca de oitocentas operadoras chinesas credenciadas para divulgar o destino Brasil na China. Só uma delas tem 358 escritórios espalhados pelo país e, por incrível que pareça, mesmo assim, as secretarias estaduais de turismo não preparam ou mandam material de divulgação para lá?, critica Alexandre.
Vale lembrar que o universo a ser trabalhado junto a potenciais turistas na China é gigantesco, já que o país tem 1,3 bilhão de habitantes. E eles são ótimos consumidores em viagens: gastam duas vezes mais que o norte-americano e seu tempo de permanência no destino é três vezes maior.
De acordo com dados da Gladtur, os destinos mais visitados por chineses no Brasil são Rio de Janeiro (para turismo de lazer e negócios), Foz do Iguaçu (turismo de lazer), São Paulo (turismo de negócios), Brasília (turismo de negócios) e, mais recentemente, Manaus (turismo de negócios). ?Eles adoram ecoturismo, por isso, ficam maravilhados com Foz do Iguaçu, por exemplo. Eles ainda não descobriram o Pantanal porque não há divulgação?, comenta Alexandre.
Promoção
Como forma de promover o Brasil no mercado internacional, a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) mantém oito escritórios brasileiros de turismo (EBTs) no exterior seis na Europa, um nos Estados Unidos e um no Japão. Não há nenhum na China e nem pretensão de abrir, pelo menos, nos próximos meses.
De acordo com Jaqueline Gil, gerente de novos mercados da Embratur, por ter orçamento limitado, no momento de abrir escritórios no exterior, o instituto priorizou mercados que mais tinham potencial de crescimento e que trouxessem resultados imediatos. Neste caso, Estados Unidos, América do Sul, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Japão. ?Além disso, quando fizemos o plano de marketing, o Brasil nem tinha ainda o ADS?, explica.
Entretanto, Jaqueline informa que a Embaixada do Brasil na China tem atuado promovendo o país e a Embratur. Há dois meses, enviou material de divulgação turística em inglês e mandarim como forma de apoio a essa ação. O material será direcionado a quinhentas agências de viagens chinesas.
Recepção
Com o objetivo de organizar a recepção dos chineses, o Ministério do Turismo abriu, em outubro, a seleção de agências de viagens para atuar na recepção de grupos. O resultado vai sair dia 28 de fevereiro.
Ainda há poucos profissionais de turismo no Brasil que falam fluentemente o mandarim. A seção paranaense da Associação Brasileira dos Guias de Turismo, por exemplo, não tem nenhum entre os 180 associados. ?Quando precisamos, contratamos intérprete que trabalha junto com os nossos guias?, diz Ivete Fagundes, presidente da associação no Paraná. Ela comenta que a demanda é pequena, foram somente dois casos em oito anos.
O Ministério do Turismo tem cadastrados trinta guias que dominam o idioma chinês, a grande maioria do Rio de Janeiro.
Investidor
Sérgio de Moraes, presidente do Instituto Brasil-China de Desenvolvimento, Intercâmbio e Comércio Exterior, com sede em Porto Alegre (RS), informa que o plano qüinqüenal chinês prevê um investimento de US$ 250 bilhões em 2007 em outros países, o que equivale a cerca de 10% do seu PIB (Produto Interno Bruto), que estão disponíveis para serem aplicados no mercado externo. ?Eles querem internacionalizar o capital a fim de aliviar a poupança interna para evitar a inflação?, comenta Sérgio de Moraes.
Este é, para ele, mais um motivo que não justifica a falta de interesse pela China, já que se trata de um país com capital e potencial de investimento tão gigantesco quanto seu próprio território.
O Instituto Brasil-China de Desenvolvimento, Intercâmbio e Comércio Exterior participou este ano, pela primeira vez, do Festival de Turismo de Gramado, ocorrido na semana passada na serra gaúcha. A participação da entidade tem como objetivo aproximar os dois países, abrindo portas para negócios com empresários também do sul do Brasil.
Chineses no mundo
Segundo estimativas recentemente feitas pela Organização Mundial do Turismo (OMT) e divulgadas pelo Ministério do Turismo, cinqüenta milhões de turistas chineses viajarão pelo mundo em 2010 e cem milhões em 2020. A instituição prevê ainda que a China será o principal motor do turismo mundial nos próximos quinze anos. Em 2004, cerca de treze milhões de chineses viajaram ao exterior para fazer turismo, um aumento de 55% em relação a 2003.
(A jornalista viajou a Gramado (RS) a convite do Festival do Turismo de Gramado e da Webjet)
País atrai atenção de brasileiros viajados
Os brasileiros estão começando a descobrir a China como destino turístico. ?Pessoas que viajam muito e que já foram muitas vezes para a Europa e Estados Unidos, por exemplo, agora estão querendo conhecer lugares diferentes e a China tem despertado muito interesse?, comenta o operador Alexandre da Mata, da Gladtur, operadora de turismo representante do governo chinês no Brasil.
Entre os locais mais procurados estão Pequim (a capital do país), Xian (devido ao monumento dos guerreiros de Terra Cota) e Xangai.
Segundo Alexandre, apesar de distante, a China não é um destino caro. Uma viagem de doze dias, visitando três cidades, custa US$ 3,5 mil, incluindo passagens aéreas e hospedagem. A língua pode ser vista como um empecilho, impedindo que mais brasileiros visitem a China, porém, destaca o operador de turismo, lá, o brasileiro não precisa falar mandarim nem inglês, já que os guias falam espanhol e, muitos, também português.
Só a Gladtur, com sede em São Paulo, oferece mais de trinta programas de viagens para a China. São pacotes de onze a 25 dias, dentre eles há muitos temáticos, como a Rota da Seda Caminho de Marco Polo, primeira ligação entre o Ocidente e o Oriente. Informações: (11) 3083-1144 e www.gladtur.com.br. (DS)