Relatório distribuído pelo Bradesco nesta tarde para seus clientes traça um cenário bastante positivo para a economia não só neste ano, mas também nos próximos. E um dos setores que mais devem se beneficiar da robustez econômica será o supermercadista. “Com um cenário positivo para o mercado de trabalho nos próximos anos, expansão real da renda e manutenção de um baixo índice de desemprego, o setor supermercadista deverá registrar novos recordes de vendas”, preveem os economistas do banco, para os quais o setor ainda é favorecido pela expansão da oferta de crédito e pelos benefícios sociais oferecidos pelo governo federal.
Cabe colocar, continuam os analistas do Bradesco, que na última década o setor se deparou com alterações de cenário significativas, devido às mudanças sociais e econômicas ocorridas no período, que favoreceram o desempenho dos supermercados. “A exemplo do que ocorreu na última década, quando o combustível necessário para manter as vendas de supermercados aquecidas foi o desempenho favorável do emprego e da renda da população aliada à estabilidade de preços e à expansão do crédito, este ano começou promissor para o setor, que vem apresentando expansão de 7,5% no acumulado do ano, segundo levantamento da Associação Brasileira de supermercados (Abras)”, dizem.
Ainda segundo o relatório, a população brasileira vem ampliando seu poder de compra nos últimos anos, decorrente da forte expansão da massa de rendimentos e da expansão da oferta de crédito. “A massa total da economia, que inclui salários, benefícios previdenciários e sociais (como o LOAS e o programa Bolsa Família), teve incremento de 4,1% em 2009, descontados o efeito da inflação, de 4,3%. Cabe destacar que a expansão do emprego tem se dado de forma saudável, com o aumento da participação das vagas com carteira assinada. É nesse contexto que o mercado de trabalho tem sido um dos drivers para o desempenho favorável da economia brasileira nos últimos anos”, acrescentam os economistas.
É importante mencionar, segundo eles, que a expansão de renda, juntamente com os programas sociais, tem mudado a estrutura social do País de forma significativa. Assim, é possível identificar uma migração das classes mais baixas para as classes com maior poder aquisitivo. “Esse movimento tem permitido a ascensão notadamente da classe C, que responde por 40% do consumo nacional, segundo dados da LatinPanel entre janeiro e setembro de 2009.”
Outros produtos
Os economistas do Bradesco também observam que “naturalmente, se a classe C vem ganhando destaque, devemos levar em conta que esse tipo de consumidor consegue disponibilizar maior parcela da sua renda para outros tipos de produtos além de alimentos.” O setor supermercadista vem sentindo esse movimento: enquanto itens de vestuário, calçados e eletroeletrônicos ganham espaço dentro do faturamento do setor, segmentos como mercearia vêm perdendo participação. “Os não alimentos foram responsáveis por 21% das vendas do setor no último ano, com destaque para eletroeletrônicos, que sozinhos representaram 7% do faturamento dos supermercadistas”, afirmam.
Como comparação, regionalmente, os indícios são de forte expansão do Norte/Nordeste, que detêm 19,6% do faturamento do setor, número que era de 16,2% em 2004. Essa estatística corrobora o bom desempenho do mercado de trabalho nessa região, que vem sofrendo um processo de formalização mais importante do que no Brasil como um todo, com redução importante da participação do emprego sem carteira. Entre 2003 e 2009, o Nordeste ampliou a participação do emprego com carteira assinada em 5,6 pontos porcentuais, enquanto o Brasil teve expansão pouco menor, de 5,1 pontos. “No caso das vagas sem carteira assinada, o Nordeste também obteve melhor desempenho, com queda de 4,2 pontos, e o Brasil de 3 pontos no mesmo período”, afirmam os economistas.
Ademais, acrescentam os economistas do Bradesco, o processo de “bancarização”, as melhores condições de crédito e os programas sociais foram importantes para ampliar o poder de consumo das famílias que vivem nessas regiões, fatores que continuarão a favorecer o Norte/Nordeste por um tempo. “Adicionalmente, podemos citar como mudança o forte processo de concentração do setor – as cinco maiores varejistas detêm hoje aproximadamente 43% do faturamento, número que era de 40% em 2001. Apesar do número parecer alto quando comparado a outros setores da economia brasileira, na comparação com o setor supermercadista de outros países, notadamente desenvolvidos (Europa e Estados Unidos), fica claro que o setor no Brasil ainda possui espaço para novas ondas de aquisições e fusões”, afirmam os analistas do Bradesco. Dessa forma, “esperamos que esse processo de concentração permaneça para os próximos anos.”
“Dada a trajetória positiva para a economia doméstica nos próximos anos e a continuidade da mobilidade social, nossa aposta é de crescimento robusto para o setor supermercadista. O setor continuará se ajustando às mudanças sociais, alterando o mix de produtos oferecidos e se instalando mais próximo ao consumidor. Para este ano, segundo o Ranking Abras realizado no início deste ano, 61% dos supermercadistas esperam que o faturamento do setor cresça entre 5% e 10% em 2010 e outros 32% esperam que cresça acima de 10%. Nossa expectativa é de incremento de 8,0% das vendas reais do setor em 2010, o que representa uma leve desaceleração das vendas do setor nos próximos meses”, afirmam.