São Paulo (AE) – Desde 2000, o valor de mercado das empresas negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 190%, de US$ 225,5 bilhões para US$ 655,1 bilhões. Nem o investidor mais otimista poderia prever o forte crescimento. A valorização dos papéis contrasta com o pífio crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no mesmo período: 18%. ?É uma pena. Mas essa não é uma história de crescimento econômico. Tem outras razões?, afirma o economista-chefe do Banco Pátria, Luiz Fernando Lopes. Segundo ele, essa explosão do mercado de capitais pode ser explicada por dois fatores: a percepção de que o prêmio de risco dos ativos no Brasil estava precificado errado e a melhora no ambiente externo, que aumentou o fluxo de investimentos para países emergentes.
Lopes lembra que o país conseguiu obter avanços importantes nos últimos anos, como a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal a criação do sistema de metas de inflação e a consolidação da política de câmbio flutuante. A constatação de que o Brasil é um país solvente, destaca, levou os investidores a corrigir os preços pagos pelos ativos nacionais. ?O Brasil é um caso único. Foi construída toda uma história de país estável, mas não se consegue impulsionar o crescimento?, afirma.
O ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e sócio da Mauá Investimentos, Luiz Fernando Figueiredo, concorda com a análise. Ele observa que o Risco Brasil, principal termômetro da confiança dos estrangeiros no país, registrou queda importante no período. O que, pondera, evidencia uma mudança de postura em relação ao Brasil. O Risco País hoje é negociado na casa dos 200 pontos, mas chegou a ultrapassar os 2 mil pontos em 2002, antes das eleições presidenciais. A melhora na avaliação do risco permitiu também que as empresas nacionais pudessem captar recursos a taxas mais baixas. ?Nos últimos anos, as empresas fizeram uma limpeza em seu passivo?, disse.
Além da correção nos preços dos ativos, Figueiredo destaca que o mercado de capitais foi beneficiado pelo cenário externo favorável. O excesso de liquidez no sistema financeiro internacional aumentou o apetite dos investidores por aplicações em mercados emergentes, o que contribuiu para elevar o volume de negócios no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo. O giro financeiro médio cresceu 161%, passando de US$ 410,2 milhões em 2000 para US$ 1,071 bilhão este ano. Além da enxurrada de dólares que invadiu o país em busca de investimento, o cenário da economia mundial ajudou as empresas exportadoras. Setores que voltaram suas baterias para o mercado externo tiveram forte valorização, como as ações de siderúrgicas e mineradoras. ?Mas isso não é capturado pelo PIB?, lembra.
Figueiredo observa ainda que o preço das commodities (como petróleo e metais) mudou de patamar nos últimos anos. Essa alta nos preços teve forte influência no resultado das companhias e em seus desempenhos em bolsa. Entretanto, o impacto para a economia foi pequeno e indireto.