Os preços de mercado, bem acima dos custos de produção, devem incentivar os produtores de feijão a aumentar a área de plantio do grão no Paraná. Outro fator que pode influenciar nesse cenário é o realinhamento do preço mínimo pago pelo governo, que passou de R$ 47 (a saca de 60 quilos) na safra 2007/08 para R$ 80 na que se inicia agora.
Em julho, segundo levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral) do Governo do Estado, a intenção de plantio apontava para um crescimento de cerca de 15%. Para os especialistas, um aumento acima desse índice não se sustentará.
Na última safra o Brasil colheu cerca 3,54 milhões de toneladas. O Paraná, líder na produção nacional, com 21,7% do total, participou com 768 mil toneladas produzidas em uma área de 283 mil hectares.
De acordo com a engenheira agrônoma do Deral, Margorete Demarchi, essa foi uma das menores áreas cultivadas com feijão nas últimas safras, devido ao preço do produto, que desestimulou o agricultor. Algo bem diferente do que acontece atualmente.
Enquanto em 2007 a saca de 60 quilos do feijão de cor era vendida a R$ 70 e do feijão preto a R$ 47, hoje os preços estão variando entre R$ 135, o de cor, e R$ 119 o preto. Valores acima do custo de produção, cuja média é de R$ 75.
A engenheira, porém, antecipa: “Teve produtor que ganhou muito com o feijão, o que não deve se repetir”. A mesma opinião tem o técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Eugenio Stefanelo. “Se a produção aumentar muito, o preço vai cair abaixo do mínimo”, comenta.
Segundo ele, o governo se comprometeu a comprar o excedente, mas não terá condições de estocar grandes volumes, até mesmo pela perda da qualidade do produto. “É preciso agir com certa racionalidade. Aumentar a produção sim, mas não muito, porque, se ocorrer uma safra abundante, o preço tende a cair”, pondera.
Stefanelo ressalta que, nas duas primeiras safras, a produção nacional – em torno de 3,5 milhões de toneladas – será suficiente para abastecer o mercado interno, já que o consumo não tem aumentado. O País exporta entre 20% e 30% do que produz.
“Quando se fala que o arroz e o feijão formam o prato principal do brasileiro, não é bem assim, pois hoje 84% da população vive no meio urbano e o consumo per capita vem caindo, devido a mudanças de hábitos e a introdução de outros alimentos no cardápio”, diz o especialista.
Da década de 70 para cá, o consumo do feijão pelo brasileiro reduziu 12%. Em compensação, o consumo de frango já chega a 38 quilos por habitante/ano; a carne bovina, a 44 quilos por habitante/ano; e a farinha de trigo, a 60 quilos por habitante/ano.
Grão teve alta de 118,75% no PR
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Preços se mantêm em relativa queda, mas pesaram no bolso ano passado. |
Estudo elaborado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor-Brasil (IPC-BR) subiu 69,41% entre 2001 e 2008, o feijão preto acumulou nesse período alta de 248,42%.
No Paraná, levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontava que o feijão, de julho de 2007 a janeiro deste ano, acumulava aumento de 118,75%. Isso foi sentido diretamente pelo consumidor nos pontos de venda.
A seca que afetou o Estado em setembro passado, na primeira safra do produto, provocou uma redução de 25,9% na produção. No entanto, na segunda safra, o Estado, aumentou em 41% a área plantada e em quase 50% a produção.
Isso fez com que os preços se realinhassem para baixo. Na avaliação de Margorete Demarchi, a seca e a redução de área podem ter sido fatores que influenciaram o valor do produto no mercado. Além disso, o Paraná, como maior produtor, acabou balisando o comportamento do mercado.
No entanto, na terceira safra, na qual o Estado não tem expressividade, Bahia, São Paulo e Minas Gerais acabaram determinando o preço, que hoje se mantém em relativa queda.