Bolsas de valores sentem impacto norte-americano

Brasília – A variação dos índices dos mercados de capitais mostra que a semana terminou em clima de nervosismo, reflexo da crise financeira que chegou os Estados Unidos. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o Brasil passa com tranqüilidade pela situação econômica.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que meses atrás vinha alcançando recordes de pontuação, caiu 0,4% na semana. E o câmbio, alvo de sucessivas queixas do setor produtivo brasileiro por causa da desvalorização do dólar norte-americano, subiu 2,63%, encerrando a semana a R$ 1,95.

A crise se intensificou nos Estados Unidos porque vários credores do setor imobiliário deixaram de pagar suas dívidas. Eles estão no grupo do subprime, um tipo de mercado que não exige garantias como comprovante de renda. Como se trata de uma operação de alto risco, os empréstimos são feitos a taxas bastante elevadas. O retorno para o investidor é bom, mas arriscado.

Os bancos, que emprestaram muito para mutuários, não estão recebendo de volta. Em conseqüência, as instituições e os investidores do mundo inteiro que emprestam aos bancos também não recebem. E sofrem o efeito dominó. Ainda não há números oficiais sobre o tamanho do calote. "Por isso é muito difícil avaliar a profundidade da crise", ponderou o economista-chefe da consultoria Austin Rating, Alex Agostini.

Mas, segundo ele, o prejuízo não deve atingir a casa dos trilhões. "Seria como dizer que os fundos de pensão estão muito mais envolvidos com o mercado hipotecário do que imaginamos ou dizer que a crise afeta muito além do mercado hipotecários".

Nos dois últimos dias, os bancos centrais norte-americanos colocaram mais de US$ 300 bilhões para ajudar os bancos a manterem seus empréstimos, já que os investidores estão tirando seu dinheiro do mercado de crédito para aplicarem em outros setores mais seguros, como ouro ou títulos públicos. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a turbulência não afetou o Brasil. Ao contrário. Segundo ele, ao final da crise, os investidores podem até apostar no país, que oferece investimentos mais seguros.

"Eles foram em busca de risco maior por falta de oportunidades e, sobrando capital, deram empréstimo com risco maior. A lição que eles vão aprender é que precisam tomar mais cuidado com as aplicações. Depois dessa turbulência, é possível que o Brasil seja até privilegiado, por apresentar condições de solidez e de rentabilidade, onde o risco é menor".

Hoje, a Bovespa deu demonstrações de que reage bem à crise. "A queda foi menor que a dos mercados emergentes", comentou Agostini. Enquanto o Ibovespa caiu 1,48%, a Bolsa do México caiu 1,5% e a da Argentina, 1,6%. Mantega e o analista dizem ser cedo para afirmar que a economia brasileira será abalada. Para eles, a expectativa é de que a crise não chegará à produção nacional, às fábricas e às exportações.

"Essa crise afeta o mercado financeiro, mas a gente não vai ter uma crise econômica do lado da produção e das vendas", aposta Agostini. Para ele, só haveria efeito na economia como um todo se mudassem as expectativas do consumidor, o que mexeria nas estratégias do setor empresarial. "Aí o consumo cai e a produção cai. E tem que se ajustar o custo. Hoje esse quadro não se configura. As expectativas continuam positivas, o crescimento mundial continua sendo o maior desde a década de 70".

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