Economia

Bolsa sucumbe a risco EUA-Irã e cai aos 117 mil pontos, mas sobe na semana

Na reta final do fechamento do pregão, o Ibovespa sucumbiu ainda mais ao clima negativo provocado pela escalada de tensão entre Estados Unidos e Irã. Depois de cair em torno de 1%, acompanhando a aversão a risco externa, o principal índice da B3 reduziu consideravelmente as perdas chegando a subir instantes antes do encerramento dos negócios. No entanto, a alta não foi mantida e o índice da B3 voltou a acentuar o ritmo de queda, fechando quase no mesmo nível das bolsas em Nova York, que cederam entre 0,71% e 0,81%. O Ibovespa, que chegou a operar na máxima intraday histórica dos 118.791,86 pontos, fechou aos 117.706,66 pontos, com declínio de 0,73%. Na mínima, atingiu 117.340,57 pontos. O volume financeiro somou R$ 29,1 bilhões. Já na semana, a Bolsa fechou com alta de 1,78%.

O aumento das tensões entre EUA e Irã fez os preços do petróleo disparem mais de 4%, afetando os papéis da Petrobras. As ações da empresa até chegaram a subir, porém depois ficaram instáveis, concluindo o dia em queda de 0,81% (PN) e de 2,47% (ON). Investidores seguem monitorando os desdobramentos do bombardeio americano, ontem à noite, no Aeroporto Internacional de Bagdá, que matou o general Qassim Suleimani, comandante das Forças Quds, uma unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã.

O sobe-e-desce, conforme operadores, reflete a dúvida sobre a política de preços dos combustíveis da estatal. Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro disse que telefonou para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, para tratar do impacto sobre o preço dos combustíveis, mas não foi atendido. “Quero ter informações dele”, afirmou, acrescentando que os ataques devem, sim, ter impacto sobre os preços dos combustíveis no Brasil.

Para um operador, essa atitude do presidente da República não é bem vista, pois pode parecer ingerência política, embora Bolsonaro tenha dito que o governo não faz essa linha. A expectativa do mercado é que nos próximos dias a Petrobras se posicione sobre o assunto. “Não pega bem. Como assim, telefonar para o presidente da estatal?”, indagou.

De acordo com um economista, o fato de não ter ficado claro se tratar de uma tensão que terá impacto significativo e duradouro no mundo, a queda das bolsas de forma geral foi moderada. No pior momento, o Ibovespa operou em 117.340,57 pontos. “Também não sabemos em que medida o presidente Donald Trump usará ou não esse ataque para se reeleger, qual a dimensão que dará para isso e qual será a próxima medida dos EUA, ou mesmo do Irã e de outros países”, acrescenta a fonte.

Qualquer evento desfavorável que ocorresse nesta sexta-feira já daria espaço para realização na B3, após os recentes recordes e dado que a agenda de indicadores do dia estava escassa, afirma Sandra Peres, analista da Terra Investimentos. Só no primeiro dia de 2020, o Ibovespa subiu 2,53%, alcançando nova marca inédita no fechamento, aos 118.573,10 pontos. “Vem de um pico elevado”, diz. Em 2019, o principal índice à vista da B3 teve valorização de 31,58%, a maior desde 2016.

Outro ponto levantado pela analista é que talvez os impactos mais fortes dessa tensão nos mercados não ocorram no curto prazo. Sandra ressalta que é evidente não ter como cravar a magnitude dos efeitos dos ataques, se continuarão. “É tudo muito incerto, quais os riscos…Acredito que o desempenho do Ibovespa mais cedo refletiu um pouco isso”, cita.

Embora o mercado esteja preocupando e continuará monitorando esse clima que se instaurou entre EUA e Irã, a expectativa pela oficialização do entendimento comercial “fase 1” sino-americano no próximo dia 15 também ajudou a limitar as perdas. “Claro que ficarão olhando essa questão EUA-Irã, mas como existe uma data para a assinatura do acordo norte-americano com a China, o investidor avalia o quanto pode manter dos seus investimentos visando esse acordo”, afirma.

Além disso, a renovada percepção de melhora da economia interna em 2020 segue como fator importante de otimismo na B3, diz um operador, lembrando que ontem, quando bateu novo recorde, houve presença considerável de investidor estrangeiro. “Pode ser um sinal de confiança no Brasil, pode ser que esteja retornando, mas temos de esperar os dados oficiais que sairão semana que vem”, diz. Em 2019, houve saída de R$ 44,517 bilhões do mercado de ações brasileiro.

Na lideranças das maiores variações, ficaram as ações da Natura (6,97%) após a empresa concluir a compra da Avon e de Braskem (4,44%), depois de a companhia anunciar a assinatura de um acordo com as autoridades pelo qual pagará R$ 2,7 bilhões para encerrar suas pendências em Alagoas. Vale ON caiu 0,74%.

Já as ações das empresas aéreas – Azul e Gol – ficaram na lista das maiores perdas, com recuos de 3,47% e de 3,42%, pela ordem, já que são muito dependentes dos preços do petróleo.

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