No último dia útil antes do segundo turno das eleições presidenciais, e com o candidato Luiz Inácio Lula da Silva virtualmente eleito, segundo as pesquisas, os mercados tiveram mais um dia de otimismo. O medo que a eleição do candidato do PT despertava parece ter sido trocado pelo alívio trazido por diversas declarações de representantes do partido sinalizando continuidade em aspectos cruciais da política fiscal e monetária.
Isso levou fundos de hedge e investidores internacionais, especialmente americanos, a prosseguirem na desmontagem de posições especulativas que apostavam na piora dos ativos brasileiros, especialmente do C-Bond, o título mais negociado no exterior.
Hoje (25), a declaração do presidente do PT, José Dirceu, de que Lula anunciaria a sua equipe econômica na terça-feira, divulgada pela Agência Estado por volta de 12h30, fez com que o índice Bovespa, que começou o dia caindo, mudasse de tendência. Mesmo a correção feita por Dirceu mais tarde, de que o anúncio não seria da equipe definitiva, não desanimou os investidores, e o Ibovespa fechou em alta de 2,19%, a 10.014 pontos. Desde 16 de outubro, o índice valorizou-se 19,6%.
Outro fator que contribuiu para a melhora dos mercados foi a divulgação pelo Banco Central, ontem, de novas projeções para as contas externas do Brasil. Agora, o déficit em conta corrente em 2002, previsto pelo BC, é de 2,42% do PIB, e o de 2003 é de 1,86% do PIB.
Recuo
O dólar e o risco Brasil também prosseguiram na sua trajetória de queda. A moeda americana fechou em R$ 3,73, em queda de 1,84%, e no nível mais baixo desde o dia 9 de outubro. O risco Brasil (medido pelo Banco JP Morgan), por sua vez, terminou o dia em queda de 2,6%, em 1.779 pontos, o nível mais baixo desde 13 de setembro. O pico histórico do risco Brasil aconteceu no dia 27 de setembro, quando fechou a 2.443 pontos. Deste dia até hoje, o índice recuou 27%.
O C-Bond fechou em 57,5% do valor de face, em alta de 1 06% em relação ao dia anterior. O C-Bond está em seu nível mais valorizado desde o dia 17 de setembro, e valorizou-se 17,2% desde 15 de outubro.
?A realização de lucros com a venda de dólares começou mais tarde do que o ajuste dos outros mercados, como de juros futuros, Bolsa e C-Bond. Por isso, a queda de preço da moeda americana foi maior ontem e hoje (de -4,60%), apesar da ausência do Banco Central no mercado à vista nos últimos dias?, afirmou Sérgio Machado, diretor de tesouraria do banco Fator. O BC não vende dólar à vista desde terça-feira.
O diretor de pesquisa para mercados emergentes do banco ABN Amro, Arturo Porzecanski – o mesmo que provocou polêmica ao rebaixar a recomendação para Brasil em maio -, disse que os investidores devem se preparar para ver um forte subida dos preços dos títulos da dívida, ações e da moeda brasileira, já a partir da próxima semana, como reação positiva à eleição do candidato do PT.
Paralelamente, o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) de Nova York, William McDonough, afirmou que reduzir a exposição ao Brasil por causa da provável eleição de Lula é ?estúpido?. Para ele, seria ?tolice? os investidores retirarem capital do Brasil porque os eleitores do país ?escolhem um líder que é comprometido com a justiça social?.
Operadores e analistas, porém, frisaram que a onda de otimismo em relação ao Brasil não significa que o fim das oscilações nos ativos do País. Como na próxima sexta-feira, dia 1.º de novembro, vencem cerca de US$ 2 bilhões em contratos de swap cambial e também há vencimentos de contratos futuros de dólar novembro na BM&F, o mercado não descarta que poderá haver disputa para o fortalecimento da ptax a partir da próxima quarta-feira. Até agora, o Banco Central não deu sinal se tentará ou não fazer a rolagem desse vencimento de swaps a partir de segunda-feira.