Apesar de já ter subido 35% nos últimos 12 meses, a Bolsa brasileira tem espaço para manter a trajetória de alta, por conta da entrada de investidores que hesitaram em comprar ações de empresas do País. O diagnóstico é do presidente da gestora BlackRock no Brasil, Carlos Massaru Takahashi, que percebe o investidor estrangeiro, apesar de confiante no Brasil, ainda à espera de medidas de estímulo à economia. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

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Em relatório recente, a BlackRock avalia como excessivo o otimismo com a China e, ao olhar mercados emergentes, observa grandes oportunidades em Brasil e México. Quais são os destaques no País?

O desempenho da China está muito relacionado à guerra comercial (com os Estados Unidos). Ainda que medidas macroeconômicas tenham buscado estimular um ritmo mais forte para a economia chinesa, adotamos cautela por causa das consequências desse ambiente muito protecionista. Já sobre o Brasil, a BlackRock tem há algum tempo uma avaliação positiva. A reforma da Previdência, que é uma questão muito importante, já passou pela parte mais difícil. Olhando alguns ativos (ações e participações em empresas fechadas), a gente acaba vendo o mercado com perspectivas boas. A economia tem tendência de crescimento bastante acanhada, é verdade. Mas as questões macroeconômicas estão bem fundamentadas, tanto a taxa de juros quanto a inflação, inclusive no longo prazo. Em renda variável (mercado de ações), entendemos que o P/L (indicador usado por investidores para identificar o potencial de retorno, calculado pela razão entre o preço por ação e o lucro por ação de uma empresa) continua baixo em alguns papéis. Então, vemos espaço para valorização, apesar de a Bolsa já ter subido muito nos últimos meses. Somamos a isso, o fato de muitos investidores ainda não estarem expostos a ações (terem entrado na Bolsa).

Os estrangeiros ainda não voltaram, já que o saldo no ano continua negativo no ano em quase R$ 5,6 bilhões…

Eles já entraram um pouco, mas ainda tem espaço (para voltarem). Com o ambiente de reforma da Previdência aprovada e outras medidas, o fluxo que se espera do exterior é bastante relevante. Também há alguns segmentos nacionais, como investidores institucionais, que estão com exposição à Bolsa acanhada.

Para o estrangeiro voltar para o mercado de ações brasileiro, é preciso que o governo execute a agenda econômica?

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O estrangeiro continua confiante no Brasil, ainda que o País precise de algumas medidas para atrair com mais força o recurso externo. É preciso levar em conta que a economia global terá crescimento menor por um período prolongado, o que derruba a perspectiva de retorno nos mercados internacionais. Com isso, a relação risco-retorno do Brasil acaba ficando mais favorável. Bons sinais sobre a Previdência e medidas que permitam crescimento consistente à frente, como por exemplo reforma tributária, privatizações, agenda de infraestrutura, vão ajudar a favorecer o crescimento doméstico e trazer o estrangeiro.

Na Bolsa, quais papéis e setores estão mais atraentes?

O setor financeiro tem espaço para valorização, porque já teve uma relação P/L melhor no passado. O setor elétrico também tem oportunidades. São apenas alguns exemplos, porque áreas diretamente relacionadas com o ciclo econômico vão ser seguramente beneficiadas quando o crescimento econômico vier.

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O fundo da BlackRock na América Latina tem hoje em torno de US$ 2 bilhões sob gestão, mas já foi bem maior. O patrimônio deve crescer?

A entrada do estrangeiro pode não se dar necessariamente por esse fundo DE AÇÕESe os ETFs (fundo de investimento negociado na Bolsa, como se fosse uma ação) poderão ser um dos canais de entrada. Os ETFs são veículos interessantes por causa da liquidez e da eficiência do preço.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.