La Paz (AE) – A Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) negocia com a Petrobras a permanência da estatal brasileira no controle operacional das refinarias de Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba. A estatal boliviana quer se preparar para assumir o negócio. O prazo pode ultrapassar um ano.
A privatização do setor hidrocarborífero na década de 90 desmontou a YPFB, cuja única função posterior foi gerenciar os contratos com as companhias de petróleo que aportaram no país. Com a nacionalização, a estatal boliviana retoma o controle do setor, mas enfrenta grande carência de quadros técnicos capazes de dominar toda a cadeia, da produção à venda da gasolina nos postos.
No caso das refinarias, a Bolívia já deu provas de que precisa evoluir muito para gerenciar. Quem já visitou uma refinaria de petróleo conhece o rito. Vídeos mostram procedimentos que devem ser rigorosamente seguidos, equipamentos de segurança são de uso obrigatório e existem regras básicas, como não acender um cigarro ou portar arma de fogo. A razão é muito simples. Numa unidade com dutos cheios de petróleo, gás, gasolina e diesel, uma fagulha pode provocar uma catástrofe.
No dia 1.º de maio, em nome da nacionalização, o governo Evo Morales contrariou todas as práticas de segurança. O ato de anúncio do Decreto de Nacionalização ocorreu dentro de um campo de produção de petróleo e gás da Petrobras. A unidade foi tomada por centenas de soldados armados com fuzis.
Reestruturação
O presidente da YPFB, Juan Carlos Ortiz, prepara um plano de investimento para recuperar a estatal, transformando-a novamente numa companhia de petróleo. ?Vamos apresentar um plano de restruturação da YPFB num prazo de 30 a 45 dias?, disse Ortiz.
Atualmente boa parte dos profissionais bolivianos do setor trabalha para as empresas estrangeiras. O próprio presidente da estatal foi gerente-geral da Petrobras. É agora que os bolivianos saberão se o duro e conturbado processo de retomada dos recursos naturais afugentará ou não o capital internacional.
A expectativa informada pelo governo ao público na Bolívia é otimista. O ministro de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas, anunciou que a Bolívia receberá entre 2007 e 2010 cerca de US$ 3,5 bilhões em novos recursos.
O ciclo positivo da atividade petrolífera é um apoio importante para o país. Outros dois fatores positivos em favor da Bolívia são os volumes de reservas ainda não explorados e principalmente a carteira de clientes. Além do Brasil e da possibilidade de aumentar a demanda interna, o governo do argentino Néstor Kirchner aparece como o fiel da balança.
Na semana anterior ao prazo final para assinaturas dos contratos, o presidente argentino assinou um acordo para compra de mais 20 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, elevando para 27,7 milhões de m³/dia as compras do combustível. Isso serve como o contrapeso da política nacionalista do presidente Evo Morales. De novo: é algo que o tempo vai esclarecer.
Investimentos
Os sinais da disposição das petroleiras em transferir dólares para a Bolívia já podem ser vistos. Fora a Petrobras, magoada demais para acenar tão cedo com novos investimentos, as demais companhias anunciaram as primeiras cifras.
O consórcio BG/Exxon/Total promete investir US$ 500 milhões no campo de Itaú, que, segundo expectativa, abastecerá o contrato com a Argentina.
O campo de Margarita, outro importante na Bolívia, operado pela hispano-argentina Repsol-YPF, pela British Gas e pela British Petroleum, deverá receber mais US$ 900 milhões. A Petrobras acena com investimentos, mas acha precipitado qualquer anúncio neste momento, talvez por temer a reação no Brasil.
O modelo boliviano é de alto risco. Mudou as regras, criou uma demanda muito acima da capacidade atual e agora precisa não de milhões, mas bilhões de dólares em investimento. Ao contrário, não terá como entregar o que prometeu. No limite, a Bolívia continua nas mãos das ?transnacionais?.