A Capitania dos Portos do Paraná, órgão do Ministério da Defesa, suspendeu temporariamente a navegação no canal de acesso aos portos de Paranaguá e Antonina. A Portaria 31, assinada ontem, pelo capitão-dos-portos Francisco dos Santos Moreira, alega falhas no balizamento, comprometendo a segurança da navegação. Com a suspensão, nenhum navio pode sair ou entrar nos portos pelo Canal da Galheta, até que o problema das bóias seja solucionado.
?A suspensão é única e exclusivamente pela segurança da navegação?, garantiu Francisco dos Santos Moreira. Segundo ele, três bóias de sinalização se deslocaram, colocando em risco a navegação no canal que liga o mar aberto à baía. ?Uma delas está em situação mais crítica. Saiu, praticamente, de um lado do canal e se deslocou para outro lado?, explicou o capitão.
Conforme Moreira, deslocamentos como este não são comuns. ?As bóias são sustentadas com peso no fundo e não se deslocam facilmente?, afirmou, acrescentando que a Capitania dos Portos costuma suspender a navegação nos portos de Paranaguá e Antonina, mas por questões meteorológicas. ?Esse fato ganhou notoriedade porque o tempo está bom.?
Prejuízos
A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) informou através da assessoria de imprensa que as bóias foram deslocadas em função do abalroamento de um dos seis navios que deixaram o porto de Paranaguá, possivelmente na madrugada de ontem. Segundo a assessoria, o mar estava revolto e os navios não teriam autorização de deixar o porto. ?Não havia condições de navegabilidade, e o que se quer é que se apure a responsabilidade de quem autorizou a saída desses navios do porto?, afirmou a assessoria. ?Quem pode autorizar é a Marinha. Se não foi ela quem autorizou, houve um desmando.?
Segundo a assessoria de imprensa, 27 navios estavam ontem ao largo, aguardando a liberação para atracar. A média, de acordo com a Appa, varia entre 12 e 15 navios. Ela não soube informar o número de navios que estavam ontem no cais, carregando ou prontos para partir.
Para o armador, o custo diário de um navio parado é de cerca de US$ 30 mil. A Appa alegou que também está tendo prejuízos – uma vez que é um prestador de serviços e deixou de operar -, mas não soube estimar em quanto.
De acordo com a Appa, a empresa Tecnimport, responsável pela manutenção das bóias de sinalização, foi acionada, e técnicos estavam trabalhando no local. O objetivo era concluir a reparação ainda ontem, mas até o final da tarde não havia qualquer previsão sobre quando a navegação seria liberada.
Para o assessor técnico da Federação da Agricultura no Estado do Paraná, Nilson Hanke Camargo, a medida traz custos para o exportador. ?A Cotriguaçu, por exemplo, está com navios para entrar?, afirmou. ?Se isso tivesse acontecido em março, abril e maio, seria o caos?, comentou, referindo-se ao período em que a safra agrícola paranaense é escoada pelos portos de Paranaguá e Antonina.
Esta não é a primeira vez que a Capitania dos Portos suspende a navegação nos portos paranaenses. Desde agosto de 2004, a navegação noturna no Porto de Antonina está suspensa por não oferecer segurança aos navios, uma vez que as bóias de sinalização de acesso pelo canal não funcionam, embora existam recursos específicos para efetuar os reparos, conforme consta no relatório da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) de fevereiro deste ano.
Administração dos portos é alvo de críticas
Um dos três deputados paranaenses que ajudaram a aprovar na Câmara Federal o projeto de Ricardo Barros (PP) que prevê a intervenção no Porto de Paranaguá, Eduardo Sciarra (PFL), disse que as bóias sofrem efeitos das marés e precisam freqüentemente passar por um processo de manutenção, o que não vem ocorrendo.
Para Sciarra (PFL), a decisão da Capitania dos Portos confirma a irresponsabilidade do governo do Paraná na gestão dos portos de Paranaguá e Antonina. ?A portaria que suspende a navegação desmonta o discurso criado pelo governo estadual para atacar as pessoas e entidades que estão brigando pela melhoria dos portos?, disse o deputado.
?Os portos do Paraná estão isolados do mundo graças ao descaso do governo?, afirmou o deputado Valdir Rossoni (PSDB), líder da Oposição na Assembléia, ao comentar a decisão da Capitania dos Portos do Paraná. Rossoni lembrou que não é de hoje que vem alertando ao governo do Estado ?para a situação perigosa que vive o Porto de Paranaguá, sob o comando do irmão do governador Requião.? ?Nenhum alerta adiantou?, disse Rossoni.
O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) enviou nota de repúdio ao ministro dos Transportes Alfredo Nascimento pela suspensão da navegação dos Portos de Paranaguá e Antonina. ?Apresento meu repúdio à péssima administração e a inobservância de quaisquer normas preventivas de gestão do maior Porto do Brasil?, afirmou o deputado. O deputado solicitou que haja rapidez para corrigir tão graves falhas e os trabalhos sejam imediatamente normalizados.