Apesar do cenário de menor ritmo de geração de ativos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mantém a previsão de lançar no segundo semestre um fundo de debêntures de infraestrutura com carteira de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão, afirmou o diretor das áreas de Mercado de Capitais e Industrial do banco de fomento, Júlio Ramundo.
“O ritmo de geração de ativos está mais devagar do que a gente imaginava, mas nós continuamos trabalhando com a expectativa de ter esse fundo lançado, no mínimo, no segundo semestre deste ano”, afirmou Ramundo no seminário “A Internet das Coisas: Oportunidades e Perspectivas da Nova Revolução Digital para o Brasil”, no Rio.
De acordo com o diretor, é inegável que, com as alterações na taxa de juros, mudou o ritmo de lançamento de debêntures. “Tanto para o lado dos investidores quanto pelo lado dos emissores.”
No entanto, não alterou a visão de futuro do banco de ter cada vez mais o mercado de capitais junto com o BNDES. “A gente pode ter uma diminuição no ritmo de emissão de debêntures agora, mas a visão de futuro que o BNDES tem é de ter o mercado de capitais participando do desenvolvimento (do investimento).”
Segundo ele, o banco já tem uma carteira da ordem de R$ 600 milhões. “Estamos em processo de construir ativos.” O BNDES também negocia outras 25 operações, no valor aproximado de R$ 2 bilhões.
Ramundo também afirmou que esse fundo precisa ter diversificação, com volume acima de 15 diferentes títulos. A ideia é recolocar no mercado secundário títulos que o BNDES tenha comprado no momento da emissão. “A gente vai reciclar a carteira do BNDES porque ao mesmo tempo esse dinheiro volta para o banco”, disse.
De acordo com o diretor, o fundo deve ter emissão pública, com pulverização em mercado. “Essas regras vão ser definidas no momento de lançamento do fundo”.
Investimento no Independência
Ramundo informou também que o investimento feito pela BNDEsPar, braço de participações acionárias do banco, no frigorífico Independência representa menos de 0,5% da carteira e rebateu críticas sobre má gestão de recursos. “Investimos R$ 250 milhões no Independência, mas desde 2007 a BNDESPar deu mais de R$ 20 bilhões de lucro. O investimento no Independência é menos de 0,5% da carteira da BNDESPar.”
O BNDES perdeu no fim de abril uma disputa na câmara de arbitragem do mercado, vinculada à BM&FBovespa, na qual tentava se desfazer das ações do frigorífico, adquiridas em novembro de 2008, conforme reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” de 10 de maio.
“Procura-se pegar um caso isolado e a partir dele construir uma tese de má gestão de recursos, o que a gente não aceita. É preciso olhar o conjunto total da atividade do BNDES”, acrescentou. Na visão de Ramundo, muitas vezes se faz avaliação desse caso como se o BNDES “tivesse sido protagonista, único perdedor e único agente surpreendido com o processo de recuperação judicial”. E disse: “Vale lembrar que o BNDES tomou decisão no início do ano em que foi decretada a recuperação judicial de não realizar novo aporte na companhia”.
Posteriormente a essa decisão, houve decisões do setor privado de conceder créditos adicionais ao frigorífico.
Ele lembra que o processo tem mais de R$ 3 bilhões de créditos em recuperação judicial, sendo que o BNDES fez aporte de R$ 250 milhões. “Vários agentes de mercado também foram surpreendidos, o BNDES não aceita determinadas críticas que beiram a dizer que o banco teve aspectos ligados a má gestão de recursos e coisas dessa natureza”, disse.
O diretor disse que o caso corre em sigilo e que não poderia fazer comentários específicos em relação ao processo.