BNDES estuda vender carteira de crédito ‘podre’

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda vender uma carteira de crédito considerada “podre”, com valor financeiro estimado em R$ 37,046 bilhões. Apesar de registrar baixa taxa de inadimplência (0,06% em 2012), o BNDES busca com a venda recuperar de forma imediata e a custos mais baixos, parte de dívidas não pagas, a maior parcela delas com prazo superior a dez anos. De acordo com o BNDES, 100% dos empréstimos não pagos já foram baixados do balanço e não causam mais impacto nos lucros.

A licitação para escolher uma consultoria para a operação chegou, na sexta-feira, à reta final, com a PricewaterhouseCoopers Corporate, Finance & Recovery como única concorrente. O banco de fomento afirmou que a decisão de vender a carteira de créditos inadimplentes ainda não está tomada e, por enquanto, será apenas contratada a consultoria.

O mercado de recuperação de crédito consiste na compra, por gestoras especializadas, de carteiras de empréstimos que os bancos não receberam de volta. Essas gestoras compram os débitos com grande deságio – por exemplo, pela metade – e têm equipes especializadas em cobrar as dívidas judicialmente. Os gestores costumam formar fundos de investimento ligados a esses créditos e, à medida que recuperam os valores, oferecem rentabilidade ao fundo.

O valor financeiro de R$ 37 bilhões foi estimado apenas para balizar a licitação, e está informado no edital. Também foi estimado o valor contábil da carteira de crédito, em R$ 6,102 bilhões. O valor contábil refere-se ao montante do empréstimo à época da concessão, com apenas dois meses de juros. Já o valor financeiro inclui todos os juros e atualizações previstos.

A grande diferença deve-se ao fato de os empréstimos não pagos que o BNDES planeja vender serem muito antigos. Das 1.020 operações integrantes dessa carteira, apenas 38 referem-se a empréstimos de menos de cinco anos atrás. A maioria (578 operações) são empréstimos de cinco a 10 anos, somando valor financeiro de R$ 3,886 bilhões. Outras 317 operações têm entre 10 e 20 anos e somam R$ 24,969 bilhões em valor financeiro.

A assessoria do BNDES destacou ainda que as operações são pequenas. Em média, os empréstimos não pagos têm valor financeiro de R$ 36,320 milhões e, contábil, de R$ 5,982 milhões. Além disso, segundo o BNDES, essa carteira de créditos não pagos nada tem a ver com a inadimplência atual.

A taxa de inadimplência do BNDES encerrou 2012 em 0,06% e, em 2011, estava em 0,14%. Essa taxa é medida pelo valor dos empréstimos com atraso superior a 90 dias em relação à carteira total do banco – em 2012, de R$ 495,672 bilhões. A carteira de créditos “podres” também não influi na taxa de inadimplência porque, segundo o BNDES, as operações já foram todas “baixadas” do balanço.

Um analista de mercado especializado no setor financeiro lembra que, pela regulamentação do Banco Central (BC), os empréstimos com mais de 180 dias de atraso precisam ser provisionados e isso causa impacto nos lucros de qualquer banco a cada trimestre. Ao longo de 2012, o BNDES registrou despesa com provisão para risco de crédito no valor de R$ 320 milhões.

Ainda segundo o analista, para os bancos, a vantagem de vender inadimplente é “garantir” uma parte dos recursos. Alguns grandes bancos mantêm departamentos de recuperação de créditos e fazem esse trabalho internamente. O BNDES possui um departamento do tipo – ano passado, informou a recuperação de R$ 169,372 milhões em seu balanço. Ainda assim, vender a carteira “podre” pode ser uma forma de garantir parte dos recursos com custos – com advogados, certidões, ações judiciais etc – menores e de forma mais rápida.

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