Rio (AE) – A oferta pública de ações do Banco do Brasil (BB) irá sair do papel ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou ontem o cronograma da operação, que antes de ser anunciada oficialmente foi comunicada à equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. “O banco informou na condição de gestor do PND (Programa Nacional de Desestatização)”, disse o presidente do BNDES, Eleazar de Carvalho. O executivo, porém, afirmou que a equipe não chegou a fazer sugestões sobre o modelo da oferta. A pulverização das ações do BB era aguardada para o início do segundo semestre, mas só irá ocorrer poucas semanas antes da troca de governo: a oferta começa hoje, com o início do período de reserva das ações, que termina no dia 22 para o pequeno investidor.

“?Esperamos uma melhora nas condições do mercado financeiro para realizar a oferta, especialmente do fim das incertezas no quadro eleitoral??, justificou Carvalho. Segundo ele, com o cenário eleitoral definido, o investidor poderá olhar novamente para o longo prazo. A expectativa é de uma arrecadação de R$ 1,3 bilhão para os cofres públicos, e cerca de R$ 100 milhões irão para o caixa do próprio banco.

Mas analistas não apostam em um sucesso tão grande como nas últimas operações, quando a procura dos investidores foi tão alta que o governo precisou vender apenas 30% do lote reservado por interessado. A oferta de aços começa amanhã, mas o preço final, porém, será conhecido apenas no início de dezembro, após a análise das ofertas feita pelos investidores institucionais.

Ao contrário das ofertas com ações da Petrobras ou Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), desta vez a colocação será feita apenas no mercado nacional. O governo optou também por não conceder nenhum desconto no preço para quem participar com recursos do Fundo Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Na operação da Petrobras, em agosto de 2000, o desconto chegou a ser de 20% para quem permanecesse com os papéis por um ano.

“No início, era preciso dar desconto porque o produto (ações) era pouco conhecido dos trabalhadores. Agora, a operação já está mais familiar”, disse. O presidente destacou que a participação dos trabalhadores aumentou da primeira para a segunda oferta realizada pelo governo. A quantidade de contas FGTS que participaram da operação da Vale foi quase o dobro do número que entrou na oferta da Petrobras. “Há uma grande possibilidade de que tenhamos novos interessados. O fato de não haver desconto não vai prejudicar a operação”, disse.

O limite para uso do FGTS ficou em R$ 500 milhões e o trabalhador poderá aplicar até 50% do seu saldo. O valor mínimo para aplicação é de R$ 300 e o máximo, de R$ 100 mil. Quem investir com recursos próprios terá desconto de 5% sobre o preço final da operação. Para ter direito ao abatimento, o investidor não poderá se desfazer dos papéis por oito meses.

Quem tem parte do FGTS aplicado em fundos criados na época das ofertas com ações da Petrobras ou Vale do Rio Doce poderá migrar para os fundos FGTS/BB. As regras já foram definidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o trabalhador deve informar sua decisão até o dia 13.

Varejo

O presidente do BNDES ressaltou que o investidor de varejo é o público-alvo da venda e deve absorver cerca de 70% do total da oferta. Ele lembrou que o BB passou por uma grande reestruturação em sua gestão e que o processo de maior transparência e governança corporativa será concluído com a entrada da instituição no Novo Mercado da Bovespa. A pulverização dos papéis é fundamental para que o BB possa ter um quarto de suas ações ordinárias negociadas em bolsa de valores, uma das exigências das regras do Novo Mercado.

Banco deu lucro até setembro

O Banco do Brasil registrou um lucro de 1,4 bilhão de reais (394 milhões de dólares) nos primeiros nove meses do ano, informou ontem. Esse valor supõe um aumento de 90,4% sobre o registrado de janeiro a setembro de 2001. Esse resultado corresponde aos lucros de 22,8% sobre o patrimônio líquido e equivale a lucros por ação de 1,92 reais (54 centavos de dólar).

No terceiro trimestre de 2002, o resultado foi de 605 milhões de reais (170 milhões de dólares),35,7% a mais do que no mesmo período de 2001. Os ingressos com operações de crédito totalizaram 2,930 bilhões de dólares entre janeiro e setembro deste ano, 3,3% a mais do que no mesmo período do ano passado.

As operações comerciais e individuais, que respondem por 52,2% do volume de crédito do banco no país, foram o motor desse aumento. A prestação de serviços, que registrou um movimento de 901 milhões de dólares nos primeiros nove meses do ano, também exibiu 20,7% de aumento em relação ao ano anterior, enquanto os gastos de pessoal e outros administrativos se elevaram 1,944 bilhão, 4,2% a mais.

As operações de crédito aos clientes se elevaram a 3,493 bilhões de dólares em setembro, 8,4% a mais do que no mesmo período do ano anterior.

O BB é o maior banco do país com 14 milhões de clientes.

As operações de crédito da carteira comercial aumentaram 61,4% em relação ao terceiro trimestre de 2001, com 3,887 bilhões de dólares.

Quanto ao comércio exterior, o BB manteve sua liderança no segmento comercial de câmbio, com 22,3% do mercado.

O Banco do Brasil fechou setembro com 27,098 bilhões de dólares em depósitos, 30,3% a mais do que no mesmo período do ano passado.

O BB oferece 9.220 pontos de atendimento ? 3.134 agências e 6.086 postos ?, 10,8% a mais do que em setembro do ano passado.

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