A crise mundial criou uma oportunidade de acelerar um processo considerado estratégico pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES): a criação de multinacionais brasileiras.
Com a desvalorização de vários ativos nas economias centrais, o banco se prepara para apoiar empresas nacionais que queiram aproveitar o cenário favorável para comprar concorrentes de outros países. O BNDES planeja gerar mais ativos no exterior para aumentar as chances das brasileiras nas compras externas.
A estruturação de uma operação consistente e estável do BNDES no exterior para apoiar a internacionalização de grupos brasileiros é a principal missão de Sérgio Foldes, funcionário de carreira do banco que acaba de assumir a superintendência da área internacional do banco.
Além do escritório em Montevidéu, o BNDES formata a atuação de sua primeira subsidiária no exterior, a BNDES Limited, aberta no ano passado em Londres. Um dos planos em estudo pelo banco é usar estruturas no exterior para emprestar diretamente lá fora, e aumentar as chances de negócios internacionais das empresas brasileiras.
“Estamos na doce situação de daqui a pouco sermos chamados a criar as multinacionais brasileiras. Já temos alguns líderes mundiais e essa é uma tendência que vai se aprofundar. Os mecanismos do BNDES já permitem algum apoio, mas talvez não seja suficiente na escala que se imagina”, disse Foldes, referindo-se à linha de internacionalização, criada em 2005, que já viabilizou negócios de grupos como AmBev e Andrade Gutierrez com R$ 8 bilhões, em países como Argentina, Alemanha, EUA e Índia.
Em uma das operações mais emblemáticas, o banco ficou com ações da JBS Friboi para apoiá-la na aquisição da americana Swift. O grupo se tornou uma das líderes mundiais em carnes.
No entanto, o BNDES quer fazer mais. Foldes indica que a diretriz é oferecer no exterior o mesmo apoio para investimentos que o banco tem ampliado no Brasil. Além do crédito, o banco poderá usar instrumentos como a aquisição de participações acionárias e papéis de empresas brasileiras emitidos no exterior, que seriam integrados a seus ativos externos.
Além disso, captações internacionais, como a de US$ 1 bilhão realizada este mês, deverão ser feitas diretamente no exterior. “Para apoiar as empresas brasileiras, o BNDES pode ter de gerar ativos no exterior”, disse Foldes, sem detalhá-los. Segundo ele, a preparação dos mecanismos ainda é “um trabalho em gestação”.