No feriado da Páscoa, a BM&FBovespa dará o primeiro passo para integrar o ambiente onde são realizadas as compensações e liquidações das operações feitas no mercado, como compra e venda de ações e de dólar. Hoje, as liquidações acontecem em ambientes diferentes: há um para cada tipo de produto (ações, derivativos, ativos e câmbio). Com a integração desses quatro “ambientes” – o que ainda depende de aprovação do Banco Central – a Bolsa estará preparada para prestar esse mesmo serviço a terceiros, o que significa que a chegada de um concorrente para negociar ações só deve acontecer em 2015.
O diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, está convencido de que a concorrência virá cedo ou tarde e que ela se dará apenas na etapa da negociação, que hoje corresponde a 6,3% dos R$ 2,5 bilhões em receita anual da bolsa. “A concorrência está se estruturando para disputar uma fatia pequena da receita”, disse em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. A parte de liquidação dessas operações terá de ser contratada e hoje a BM&FBovespa é a única empresa que detém essa expertise.
Desde meados de 2011, bolsas manifestam a intenção de se instalar no Brasil, porém, a concorrência pode ser realidade por aqui só depois da autorização e certificação por parte do Banco Central de um serviço de compensação e liquidação das negociações. A BM&FBovespa conta com a possibilidade de ter um concorrente desde 2007, quando a Comissão de Valores Mobiliários(CVM) abriu essa alternativa. “Mas quem determina a concorrência em qualquer país é o mercado. Se o mercado não tiver essa necessidade é muito pouco provável que o concorrente consiga se estabelecer.”
A chegada da concorrência está mais próxima?
A concorrência virá, é uma questão de tempo. Hoje me sinto totalmente convencido de que ela virá na parte da plataforma de negociação (trading), porque na parte de pós-trading, de clearing, a régua está muito alta.
O que mudará com a nova estrutura de risco integrado?
No novo modelo a garantia vinda dos clientes vai cair de US$ 100 bilhões para US$ 70 bilhões porque o risco que hoje é segregado em ações, derivativos, câmbio e ativos, passa a compor um único portfólio, inclusive com balcão, e assim a Bolsa poderá chamar uma garantia única. Para colocar esse sistema no ar tivemos de mostrar ao regulador que não perderíamos segurança. Esse sistema de risco é inédito. Não há bolsa no mundo que tenha um sistema de risco que olha balcão e produtos listados ao mesmo tempo. Hoje temos quatro janelas de liquidação. Isso vai virar uma janela só. Em uma delas, simulamos uma economia, no dia, de R$ 500 milhões a R$ 700 milhões.
É esse sistema integrado e caro que dificulta a entrada da concorrência nesse segmento?
Quando um concorrente diz que vai montar uma nova clearing e tem US$ 30 milhões para investir, ele deve ter em mente que só ao Banco Central terá de pagar uma taxa de R$ 37 milhões para pedir a autorização. Por isso acredito que cedo ou tarde a concorrência virá para o trading. Agora, para o pós-trading é muito difícil.
O sistema está pronto?
Bancos e corretoras estão fazendo teste de habilitação. Nossa ideia é fazer a migração dos derivativos na Páscoa e no fim do ano de ações. Em 2015, teremos as quatro integradas.
Quando a Bolsa vai tornar disponível a nova clearing para a concorrência?
Vamos prestar o serviço para a concorrência apenas quando terminarmos a integração. E nos reservaremos o direito de analisar o concorrente. Ele terá de se adequar às condições de risco de contraparte que a Bolsa está assumindo.
Como está o projeto que incentiva a abertura de capital de pequenas e médias empresas?
A expectativa era ter anunciado no fim do ano.
Existe algum impasse no projeto?
Na última reunião com o ministro (da Fazenda) Guido Mantega foram acertados os impasses.
O assunto pode esbarrar na agenda eleitoral deste ano?
Com os limites do BNDES para financiamento e a redução de crédito no mercado, as pequenas e médias empresas precisam de uma válvula de saída. Ações têm custo zero para captação. O que vejo da agenda política é que o governo fez uma desoneração grande, mas no caso das PMEs isso não aconteceu.
Qual é o real interesse das companhias pelo projeto?
O projeto dá um incentivo ao comprador do papel (isenção de imposto de renda). Falta um investidor para comprar o papel dessa empresa. Os acionistas hoje querem liquidez e uma empresa já completamente consolidada, que pague dividendos. Tivemos de procurar um nicho para comprar esse tipo de papel. Estamos, na verdade, criando o comprador desse papel. Há 220 empresas que são potenciais candidatas a vir ao mercado ao longo de dois a três anos.
Qual é a expectativa para as ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) em 2014? Se fizermos o mesmo volume do ano passado, considerando Copa do Mundo e eleição, está bom. O que pode atrapalhar, na verdade, não é a Copa do Mundo, mas os feriados no Brasil nesse período. As operações na verdade vão refletir o humor do investidor estrangeiro, do qual dependemos muito, principalmente para os IPOs. Hoje o humor desse investidor está um pouco “zangado”. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.