O mercado de títulos públicos e o câmbio de países emergentes pagaram um preço alto com a eleição do republicano Donald Trump, nos Estados Unidos, conforme constatou o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês). No relatório trimestral de dezembro, divulgado hoje sob o título “Uma mudança de paradigma nos mercados?”, a instituição salientou que o movimento de elevação dos retornos dos títulos públicos globais e o fortalecimento do dólar pesaram sobre os ativos dessas economias.

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Até o início de novembro, os mercados emergentes (EMEs) estavam evoluindo na esteira das economias avançadas. “Então, o sentimento do investidor mudou marcadamente. As saídas vistas no mercado de títulos e a depreciação cambial na semana pós-eleição ficaram ainda maiores do que na época do mau humor visto em 2013”, compararam os técnicos da instituição. Aquele ano foi o pior para a economia mundial desde a crise financeira internacional de 2008 e 2009.

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Já as reações dos mercados de crédito e de ações nos emergentes foram mais discretas do que há três anos. Para o BIS, isso ocorreu possivelmente refletindo um cenário econômico e financeiro diferente. Os fundos dos EMEs já tinham visto grandes saídas nos últimos anos, diminuindo pressões sobre avaliações dos ativos. O BIS salientou que um “boom” prospectivo nos Estados Unidos também pode trazer benefícios para essas economias. Os técnicos da instituição ressaltaram, porém, que os riscos continuam a existir, principalmente por causa do elevado grau de incertezas políticas em vários países considerados chave.

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“Além disso, 10% das dívidas corporativas denominadas em dólar estão programadas para vencer em 2017, o que poderia gerar mais pressão sobre os mercados financeiros emergentes”, consideraram. Segundo eles, as taxas de financiamento em dólares de curto prazo aumentaram significativamente, principalmente em resposta a mudanças em regulamentações relativas aos fundos monetários “prime”, que entraram em vigor em outubro.

No relatório, o BIS destacou que as taxas de rentabilidade dos títulos globais continuaram a subir sensivelmente nos últimos meses. O documento salientou que, após as taxas de juros terem atingindo o menor nível da história no verão europeu, todos os yields dispararam no fim de novembro – na realidade, numa magnitude similar ao acesso de mau humor que foi visto no mercado de maio a setembro de 2013.

Para a instituição, apesar de haver um risco de as taxas permanecerem altas por um longo tempo, há alguns sinais de estresse no mercado de crédito. “Inicialmente apoiado por notícias macroeconômicas positivas em todo o mundo, o aumento das taxas se acelerou após as eleições presidenciais nos Estados Unidos. A reação do mercado de bônus no dia da eleição foi parecida com o que se viu na primeira eleição de Ronald Reagan, em 1980”, trouxe o documento.

Os técnicos do BIS continuaram dizendo que os mercados de ações dos EUA também ecoaram aquele momento do passado, sugerindo que os mercados passavam a prever um “boom” no país e maiores lucros corporativos em um ambiente de política fiscal mais expansionista, uma redução dos impostos e uma regulamentação mais flexível. “Consequentemente, as probabilidades de política monetária mais restritiva aumentaram nos Estados Unidos e o dólar ficou fortalecido.”