Nem todo problema visto no mercado financeiro se restringe a ficar apenas no mercado financeiro, salientou o conselheiro econômico e chefe de pesquisa do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), Hyun Song Shin. Paradas bruscas no mercado, de acordo com ele, podem ter um impacto econômico real, mesmo no caso de países com grandes reservas cambiais.

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Isso porque as empresas podem encontrar dificuldades de financiamento ou decidirem cortar investimentos e operações, resultando numa contração ainda mais lenta da economia. “Isso enfraquece a narrativa de crescimento mais rápido entre os emergentes, dando impulso à saída de investidores e completando o ciclo vicioso”, considerou.

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Nestes casos, conforme o representante do BIS, mesmo bancos centrais com grande estoque de reservas podem ter dificuldades de evitar uma economia em desaceleração quando as condições se apertarem. Ele salienta que três novos pontos surgiram: mudanças nos papéis e na composição dos participantes do mercado, evolução das moedas das economias emergentes e política monetária como um driver do desenvolvimento do mercado. “Estes desenvolvimentos podem ter impactos na economia real.”

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A avaliação do economista se deu depois do estresse pelo qual passaram os mercados financeiros mundiais recentemente, com a inesperada eleição do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump. A reviravolta dos ativos atingiu em cheio os mercados em desenvolvimento, já que o dólar se tornou mais forte, a rentabilidade dos títulos de grandes economias cresceu e houve saída dos fundos.

Para Shin, os investidores de títulos de países emergentes também estão mais expostos a risco de mercado. “No jargão, os investidores enfrentam um maior ‘risco de duration'”, salientou. Segundo ele, se esses investidores reagirem ao aumento da rentabilidade dos títulos vendendo os papéis e saindo do mercado, essa reação pode ampliar a interrupção do mercado.

O conselheiro do BIS salientou que um conforto vem da mudança de empréstimos bancários de curto prazo para prazos mais longos nos títulos de dívida emitidos pelos emergentes. “É verdade que empresas dessas economias possuem cerca de US$ 120 bilhões em títulos de dívida internacionais com vencimento denominados em dólares em 2017. Contudo, tendo instrumentos de longo prazo, isto representa apenas cerca de 10% do montante total em dívida”, comparou. Sob este ponto, considerou, os tomadores podem estar menos vulneráveis a uma “parada súbita” decorrente da impossibilidade de rolagem da dívida. “Assim, os credores estão mais expostos ao risco de mercado.”