As altas taxas de desemprego geram incertezas sobre a recuperação global, ainda que de um modo geral a retomada tenha se dado com mais força e rapidez do que o esperado, disse hoje o economista-chefe do Banco Mundial (Bird), Justin Yifu Lin. O economista citou também o excesso de capacidade das indústrias dada a demanda ainda contida como entrave à recuperação. Segundo ele, a retirada dos estímulos fiscais e monetários pode inibir o aquecimento da demanda privada, que é justamente o que as economias precisam para preencher a utilização da capacidade instalada das indústrias e voltar a criar mais empregos, e isso deve ficar mais evidente a partir do segundo semestre.
A situação é particularmente complicada nos países desenvolvidos, os mais afetados pela crise. De acordo com o mais recente relatório World Economic Outlook (WEO), do Fundo Monetário Internacional (FMI), a taxa de desemprego nas economias avançadas deve ficar em 8,4% este ano e 8% em 2011. Para os Estados Unidos, a projeção é de uma taxa de desemprego de 9,4% em 2010 e de 8,3% em 2011.
Na zona do euro, o FMI espera que a taxa de desemprego atinja 10,5% em 2010 e 2011, ficando acima desse patamar em alguns países como Grécia, onde se espera uma taxa de desemprego de 12% este ano e de 13% no ano que vem – levando-se em consideração que o relatório foi finalizado antes da piora da situação fiscal do país. Na Espanha, o mercado de trabalho deve continuar deprimido, ficando a taxa de desemprego em 19,4% em 2010 e em 18,7% no ano que vem, prevê o FMI.
O diretor do FMI Murilo Portugal reconhece que há riscos para as economias, mas não acredita em duplo mergulho na recessão. Ele manifestou, porém, grande preocupação em relação ao impacto da crise nos países de baixa renda. Portugal, Lin e outros integrantes do FMI e do Bird apresentaram hoje relatório que mostra que a crise atrasou o ritmo de redução da pobreza em países em desenvolvimento e, como resultado, 53 milhões de pessoas continuarão em extrema pobreza em 2015. No entanto, o número total daqui a cinco anos de pessoas extremamente pobres deve ser de 920 milhões, abaixo das 1,8 bilhão de pessoas que viviam nesse patamar em 1990.