Em qualquer debate sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), é comum ouvir, principalmente por parte de ambientalistas, que o dinheiro usado na construção da usina poderia ser usado para produzir energia por meio de outras fontes, em tese mais amigáveis ao meio ambiente, como centrais de energia eólica ou Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). A tarefa não seria simples. Estimativas feitas pela área técnica do Ministério de Minas e Energia a pedido do Grupo Estado mostram que,em caso extremo, se toda a energia de Belo Monte tivesse de ser gerada em centrais eólicas ou solares, o gasto seria maior e o custo da energia também.
Belo Monte terá potência de 11,2 mil megawatts (MW). Como a geração oscilará ao longo do ano – por ter reservatório pequeno, a produção cai drasticamente na seca -, os técnicos fizeram projeções com base na “garantia física” da hidrelétrica, que é a energia média que efetivamente será produzida: 4.571 megawatts médios (MWmed). Para obter essa produção com centrais eólicas, que usam vento para gerar energia, a estimativa é que seria preciso instalar 10.160 turbinas a um custo que varia de R$ 47,8 bilhões a R$ 83,6 bilhões.
Pelas estimativas do governo, Belo Monte demandará gastos de R$ 20 bilhões. O valor é contestado, mas, mesmo nas projeções menos otimistas, a obra custará no máximo R$ 30 bilhões. “No Brasil, ainda temos hidrelétricas para explorar e são a fonte mais barata. Então, tenho de fazer delas o carro-chefe. Outras fontes, como eólicas, biomassa e PCHs são excelentes para complementar, mas não têm as características para liderar a expansão”, diz o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann.
Além dos efeitos econômicos, chama atenção o espaço físico necessário para as torres das turbinas eólicas. Se fosse construída uma grande central eólica, contínua, para gerar a mesma energia de Belo Monte, as torres ocupariam área de até 3.047 quilômetros quadrados, duas vezes a cidade de São Paulo. A área alagada para Belo Monte será de 516 quilômetros quadrados.
Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace Brasil, ressalta que, na mesma área onde as centrais eólicas são instaladas outras atividades podem coexistir, como pecuária e agricultura. No caso das hidrelétricas, diz, mesmo se ao lago for dada outra destinação (como turismo), a população precisa ser deslocada.