Esta é a primeira vez que o Comitê de Política Monetária (Copom) utiliza o viés de alta em suas decisões de política monetária. O comitê foi criado em junho de 1996. Até então, o Banco Central havia anunciado apenas viés de baixa nas reuniões – o último ocorreu em agosto do ano passado. Ocorreram aumentos de juros fora dos Copons previstos, em reuniões extraordinárias.
Surpreso com a decisão, o mercado tenta desvendar que eventos podem levar a autoridade monetária a elevar ou manter a taxa básica de juros inalterada. “Na área da inflação, destacaria como principal evento a divulgação do IPCA-15 no próximo dia 25, que pode confirmar ou não essa desaceleração da inflação. Mas creio que o mais importante seja mesmo a guerra e seus efeitos sobre indicadores como o preço do petróleo”, avalia o economista, chefe do ABN Amro, Mário Mesquita.
No mercado, analistas também questionavam a explicitação direta sobre a “velocidade da inflação” na justificativa da decisão.”Se há alguma dúvida sobre o comportamento da inflação, o certo seria então aumentar os juros”, criticava o economista-chefe de um grande banco doméstico.
A decisão inédita e inesperada gerou controvérsias. Há quem acredite, por exemplo, que a real intenção do BC tenha sido corrigir a inclinação das curvas de juros mais longas, ou seja, “subir os juros sem subi-los”. “As curvas de 6 meses e um ano estavam com tendência de ficarem negativas, sem prêmio, o que significa em tese alguma expansão do crédito”, explica a economista de um grande banco também doméstico. “De qualquer forma, dá a impressão de que o BC está vendo algo que não estamos vendo”, diz a economista.
“É um ponto a mais para se respaldar de um possível efeito muito negativo da guerra, que começou com o aumento do superávit fiscal, a política monetária mais apertada e o saque dos recursos do Fundo. Afinal o mercado não espera uma guerra rápida, em questão de semanas?”, questiona o economista-chefe do Banco ING, Marcelo Salomon.