O Banco Central vai continuar trabalhando para manter a inflação na meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4,5% para este ano. A afirmação foi feita pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, em entrevista à Agência Brasil, órgão oficial do governo. "A Nação pode estar tranqüila de que o Banco Central vai manter a inflação na meta", disse Meirelles.

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Nas últimas semanas, a subida da inflação derivada da alta dos preços internacionais dos alimentos e do petróleo motivou setores do governo a sugerir que o BC explicitasse que iria perseguir uma inflação ligeiramente maior do que o centro da meta, na casa dos 5%. O raciocínio por trás dessa proposta é o de que, como a inflação sobe por causa de um "choque de oferta", a elevação dos juros teria pouca eficácia para conter a alta dos preços. A alta dos juros, no entanto, reduziria o crescimento econômico, o que seria um preço alto a pagar por resultados quase nulos em termos de controle inflacionário.

A análise de Meirelles, porém, vai em outra direção. Ele afirma que a inflação não está concentrada em alimentos, mas tem um grau bastante grande de difusão, espalhando-se por matérias-primas, metais, produtos químicos, petróleo e serviços. Além disso, a economia aquecida gera risco de que os fortes aumentos de preços no atacado sejam repassados para o varejo.

O presidente do BC diz ainda desconhecer qualquer discussão, no governo, para que seja alterada a meta de 4,5%, adotando-se a chamada "meta ajustada de inflação". Segundo ele, na sua próxima reunião, o CMN vai discutir a meta para 2010. "Não existe, ao que eu saiba, qualquer agendamento para uma mudança: ou seja, a meta para 2008 e 2009 está fixada e nós vamos fixar a meta para 2010".

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A política de metas de inflação deixa margem de tolerância de dois pontos porcentuais, para cima ou para baixo, ou seja, a meta deste ano será considerada cumprida mesmo se inflação for a 6,5%. Na entrevista, Meirelles deixa claro, porém, qual é o alvo do BC. "Usando a analogia do tiro ao alvo, o Banco Central sempre mira na meta. Depois do tiro disparado, pode haver um vento forte que desvie um pouquinho a bala. Mas a próxima bala vai ser de novo atirada em direção à meta", disse.

Compulsório

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Segundo Meirelles, o Banco Central agiu a tempo "e continuará a agir", para evitar que a inflação fuja ao controle. Ele descartou, porém, o aumento do depósito compulsório dos bancos junto ao BC, que vem sendo sugerido por alguns economistas para reduzir o descompasso entre oferta e demanda. Para Meirelles, no Brasil os compulsórios já estão muito acima da média praticada em outros países, e a taxa de juros é o instrumento mais adequado para manter a demanda sob controle."A taxa de juros, juntamente com o sistema de metas de inflação, tem se revelado no mundo todo como o mecanismo mais adequado para a aplicação da política monetária", ressaltou.

Superávit

Apesar disso, ele considerou que uma eventual elevação do superávit primário do governo (a economia feita para garantir o pagamento de compromissos financeiros) ajudaria a tarefa do BC, na medida em que ajudaria a reduzir a dívida pública mais rapidamente, o que tenderia a baixar as taxas de juros a longo prazo. Mas essa decisão, salienta, não cabe ao BC, mas ao presidente da República e ao Congresso, ao definir as prioridades de investimento do País. A meta atual de superávit primário é de 3,8% do Produto Interno Bruto.

Na entrevista, Meirelles respondeu ainda aos críticos da política monetária, que consideravam exagerada a preocupação do BC com a inflação e contestaram a retomada do ciclo de elevação de juros, iniciada em abril. Para ele, os últimos dados de inflação confirmam que o BC estava certo e os críticos, errados. "Na medida que antes estavam, talvez, eufóricos, hoje estão próximos do pânico", disse ele.