BC nega intervenção, mas dólar sobe depois de leilão

O Banco Central garante que não interveio no câmbio ontem, mas a partir do momento que a instituição anunciou que estaria comprando moeda, o dólar passou a subir de cotação. Até a metade da manhã, quando o mercado operava normalmente, a moeda americana chegou a ficar abaixo de R$ 2,70. A partir do anúncio do BC de que compraria dólar por até R$ 0,02 acima da cotação do momento, a moeda começou a subir e fechou o dia a R$ 2,719 para venda, alta de 0,37%.

A reação da moeda foi em seguida a um comunicado divulgado pelo Departamento de Operações das Reservas Internacionais, informando a realização de leilão para aquisição de US$ 1 milhão, com data de liquidação para amanhã (quarta-feira). Na semana retrasada, o BC anunciou que o Tesouro Nacional iria a mercado doméstico para comprar cerca de US$ 3 bilhões para fazer frente a compromissos em moeda estrangeira a vencer entre este ano e junho de 2005.

Neste mês, a União tem vencimentos da ordem de US$ 600 milhões, sendo que mais de US$ 500 milhões já foram contratados em outubro, segundo já informou o próprio Tesouro.

BC nega piso e intervenção

O presidente do Banco Central, Henrique Meirel-les, disse que a compra de dólares pelo BC, ontem, não é uma intervenção e não tem como objetivo fixar taxa específica de câmbio. Segundo Meirelles, "não há piso nem teto para o dólar e o câmbio é flutuante".

O presidente do BC disse que a decisão de comprar dólares para recompor reservas, dentro do programa anunciado no dia 6 de janeiro, foi tomada porque as condições de mercado eram adequadas. Sobre as reclamações de integrantes do governo para a baixa cotação do dólar, o presidente do BC disse que "o debate existe" e lembrou que as perspectivas para as exportações continuam boas.

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Afonso Bevilaqua, também afirmou que a decisão do BC de comprar dólares ontem no mercado para recompor as reservas internacionais não caracteriza uma intervenção. "O programa prevê que a médio prazo vamos acumular reservas sem nenhuma preocupação específica com nenhum nível determinado da taxa de câmbio", disse Bevilaqua.

O mercado, entretanto, teve outra interpretação da decisão do BC de comprar US$ 1 milhão ontem por três motivos: 1) O BC comprou dólar por uma cotação quase R$ 0,02 acima do valor em que a moeda estava sendo negociada no momento em que anunciou a decisão; 2) A ação do BC ocorreu quando o dólar caía abaixo de R$ 2,70; 3) Analistas lembraram que o BC não ia a mercado comprar dólar para as reservas desde o começo do ano.

Para analistas, o BC teria cedido a pressões do ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva para evitar que a queda do dólar prejudicasse os exportadores, já que, com isso, os produtos brasileiros perdem competitividade no exterior.

Mercado trabalha com R$ 2,70

O mercado interpretou como uma "intervenção branca" o leilão de compra de dólares realizado ontem pela manhã pelo Banco Central e um sinal de que o governo não deixará a moeda norte-americana cair abaixo de R$ 2,70. Logo nos primeiros negócios, o BC abriu ofertas para aquisição de US$ 1 milhão no mercado doméstico, que diariamente gira em torno de US$ 1 bilhão.

Segundo informações de operadores, o BC comprou moeda a R$ 2,715, acima da cotação negociada naquele momento, que oscilava na faixa de R$ 2,69 e R$ 2,70.

Logo após o leilão, que pegou o mercado de surpresa, o dólar comercial passou a operar na faixa de R$ 2,71 e R$ 2,72.

Ainda de acordo com fontes das mesas de câmbio, o mercado já trabalhava com uma entrada significativa de dólares da ordem de US$ 300 milhões, provavelmente uma grande empresa da área de mineração e siderurgia, o que poderia derrubar a cotação para R$ 2,69. Por isso, para alguns operadores o BC claramente sinalizou um "piso" para a taxa cambial em R$ 2,70.

Na semana retrasada, o BC anunciou que o Tesouro Nacional iria a mercado doméstico para comprar cerca de US$ 3 bilhões para fazer frente a compromissos em moeda estrangeira a vencer entre este ano e junho de 2005. Até ontem, no entanto, o mercado ainda não havia acusado a presença do governo nos negócios do câmbio doméstico.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo