Um estudo do Banco Central (BC) mostra “evidências robustas” dos impactos macroeconômicos e financeiros da política de relaxamento quantitativo do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sobre a economia do Brasil. “Houve apreciação cambial, aumento do fluxo de capitais e efeito sobre a atividade estatisticamente significativos e de magnitude relevante”, afirmou o economista João Barata Barroso, da área técnica do BC, durante o XVI Seminário de Metas para a Inflação, no Rio.
Barroso afirmou que a política monetária não convencional também trouxe uma tendência deflacionária, mas sem impacto significativo, já que o relaxamento derrubou as taxas de juros no cenário doméstico. “Percebemos aumento no crédito, queda na taxa de juros dessas operações, além de impacto positivo sobre mercado de capitais, sobre produção industrial e varejo”, acrescentou Barroso. “Esses efeitos se fortalecem no pós-crise.”
Membros do Fed também realizam estudos semelhantes. O diretor associado Shaghil Ahmed, do Federal Reserve Board, reconheceu que a injeção de recursos nos mercados feita por países desenvolvidos, como Estados Unidos e Japão, criou tensões com as economias emergentes.
“Esse tipo de política criou tensões políticas entre os países, principalmente entre emergentes e avançados”, confirmou Ahmed, lembrando que, à época, a preocupação dos emergentes era a entrada de fluxo de capitais, que atualmente se converteu em temor de fuga de investimentos. “Hoje, a preocupação é reversa”, acrescentou.
Com a expectativa para o desmonte dessas políticas de relaxamento monetário, processo conhecido como tapering, Barroso, representando o BC brasileiro, concluiu que há chances de o efeito ser negativo sobre os mercados emergentes. “Há um possível efeito positivo sobre crescimento de economias avançadas e efeito negativo financeiro sobre economias emergentes”, reconheceu.
Segundo o professor emérito da London School of Economic, Charles Goodhart, passados seis anos da quebra do Lehmann Brothers, a economia global ainda tem uma série de riscos pela frente. O cenário nebuloso é formado por um crescimento “patético” da ainda não recuperada Zona do Euro, a transformação da crise econômica europeia em crise política, o ritmo incerto na recuperação da economia americana e do Reino Unido e a rivalidade política entre o Japão e a China, citou Goodhart.