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‘BC é só um fator para ajudar na retomada’, diz Ilan

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, que chegou nesta terça-feira, 17, a Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial durante três dias, disse ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, em entrevista por telefone, que a política monetária é apenas um componente entre vários que vão ajudar na recuperação da economia. Ele citou, como parte do conjunto de medidas para a retomada, as reformas fiscais, microeconômicas e os investimentos em infraestrutura. “Quando você vê, é um conjunto de medidas, de vários aspectos, que vai fazer a economia se recuperar e crescer”. A seguir, a entrevista.

O corte de 0,75 ponto porcentual da Selic na reunião do Copom de janeiro surpreendeu, e já há quem fale em corte de um ponto na próxima reunião.

Achamos que era momento de intensificar, de antecipar o que a gente julga ser o espaço para o afrouxamento da política monetária. A gente foi acumulando informações de atividade, de inflação corrente, de expectativas, de núcleos, de projeções de inflação – caíram para 4,5% e 4,4% em 2017 e 2018 no nosso cenário de mercado. Tudo isso foi acumulando as evidências que levaram à decisão. Nossa comunicação é condicional aos dados. Nos reservamos o direito de mudar se as coisas mudarem. Qualquer mudança no ritmo ou no orçamento da queda (total de corte da Selic no ciclo de baixa) é condicionado pela inflação, pela expectativa de inflação.

Mas o BC não poderia ter sinalizado essa mudança?

Há a ideia de sinalizar antes e acho bom que o instrumento (a taxa Selic) tenha movimentos suaves. Mas às vezes a gente decide no dia da reunião. Ou melhor, todas as decisões são tomadas no dia da reunião, mas às vezes você tem mais certeza, mais segurança do que está pensando em fazer. E às vezes tem menos certeza. Quando isto acontece, pode ir para um lado ou para o outro lado, não tem como sinalizar de forma precisa.

Por que a recuperação econômica está tão lenta?

Isto tem a ver com uma recessão que tem um processo de desalavancagem, com os excessos do passado. Mas a gente sabe que a economia volta quando a gente muda a direção da política econômica, e ela está na direção correta – as reformas, a queda da inflação, o espaço para queda de juros que se criou ao longo dos últimos meses. Mas não dá para saber exatamente quando a retomada vem.

O sr. foi muito criticado recentemente por não ter cortado a Selic mais e de forma mais rápida em 2016.

Às vezes eu acho que quando a gente está quase lá, quebrando a espinha da inflação, fazendo esse trabalho de ancorar as expectativas, com a expectativas e a inflação começando a cair, aí é que é o auge das ansiedades, o auge das críticas, o auge das dúvidas. Na verdade, eu até sugeriria que isso poderia ser um indicador antecedente de uma queda da inflação mais forte. Eu acho que desta vez não foi diferente. Mas é só esperar um pouquinho para ver o resultado.

Como o BC pode contribuir para a recuperação da economia?

A política monetária contribui para a recuperação da economia, desde que as expectativas estejam controladas e na meta, e a inflação esteja caindo. Mas política monetária é apenas um componente de vários que vão ajudar a recuperação. Tem que ter investimentos em infraestrutura, as concessões que estão acontecendo, as reformas fiscais estão passando, as reformas microeconômicas. Quando você vê, é um conjunto de medidas, de vários aspectos, que vai fazer a economia se recuperar, crescer.

Quanto o juro no Brasil pode cair?

Isso depende das reformas. O juro real de equilíbrio (que não freia nem acelera a economia) depende das reformas, não depende só da nossa vontade. Depende de produtividade, da eficiência do sistema financeiro. Tem reformas muito importantes, reformas submetidas ao Congresso Nacional e outras reformas econômicas que também virão. Essas reformas, principalmente as fiscais, são cruciais para a queda da taxa de juro de equilíbrio, e, quando ela cair, por essas razões fundamentais, isto se reflete também numa inflação menor.

Como foi até agora a sua agenda em Davos?

Cheguei hoje (terça-feira), fico três dias. Em primeiro lugar, as pessoas estão preocupadas com a situação econômica global, com a política econômica dos Estados Unidos, com a reação da China. Hoje esteve aqui o presidente chinês. Tem questões globais que estão mexendo muito com as cabeças, gerando preocupações. O Brasil, para quem tem interesse no País, continua despertando o interesse dos investidores, isto está claro. Acho que há uma sensação de que muita coisa foi feita, que muita coisa está na direção certa, em termos de reformas. Mas obviamente as pessoas querem ver isso continuar, há um desejo de ver o Brasil continuar a dar certo.

O BC mudou alguma coisa na política de swaps cambiais?

Não estamos mudando nada. O estoque foi reduzido de US$ 108 bilhões no pico para US$ 26 bilhões atuais. Quando apenas rolamos para manter o estoque, consideramos que isso é manter a intervenção neutra, é simples manutenção do status quo. É claro que podemos em outros momentos reduzir o estoque ou aumentá-lo, mas, quando isso acontecer, aí sim estaremos tentando afetar alguma coisa.

O BC não se preocupa quando o mercado financeiro precifica uma queda de juros muito exagerada?

Nós não tentamos microgerenciar, influenciar numa frequência alta os preços de mercado. Se o Banco Central tentar ficar influenciando a curva de juros, numa frequência alta, todo dia, toda hora, isso não funciona, não é nosso papel. Nosso papel é mostrar para todo mundo, para a sociedade, o que importa para nós em termos da decisão. E que isso fique cada vez mais claro para o futuro.

O sr. leu o artigo do economista André Lara Resende sobre as teorias em que um juro maior causa inflação mais alta?

Não vou comentar artigos específicos. Mas há algo claro para nós: a ordem dos fatores é importante. Na nossa visão, é necessário primeiro que as expectativas de inflação caiam, a inflação caia, para que depois os juros caiam. Não achamos que dá para inverter essa ordem. Isso é algo que a gente aprendeu no passado, nas últimas décadas. Nós aqui, no BC, somos obrigados a enfrentar a realidade, e não estamos no mundo dos desejos, aquele onde você deixa o instrumento cair para que depois a inflação caia. Eu diria que todo ano tem alguma teoria que é uma teoria dos desejos, que não é a realidade que os bancos centrais têm que enfrentar todo dia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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