BC deve impedir desvalorização maior do real

Apesar da tendência de alta do dólar em relação às principais moedas do mundo, o Banco Central deverá impedir uma desvalorização mais forte do real no curto prazo para não prejudicar o combate à inflação, dizem analistas. “Até as eleições (presidenciais de 2014), o BC vai ficar segurando o câmbio por volta de R$ 2,00 a R$ 2,05”, diz Fabio Kanczuk, professor da Universidade de São Paulo (USP), Ph.D em Economia pela Universidade da Califórnia (Ucla), com pós-doutorado pela Universidade Harvard.

Na opinião do economista-chefe do banco J.P. Morgan no Brasil, Fabio Akira, a situação inflacionária ainda requer muitos cuidados da autoridade monetária, que, por sua vez, tem indicado que a estabilidade na taxa de câmbio será um fator desinflacionário para este ano. “Nesse sentido, creio que o BC queira preservar o intervalo recente de oscilação do câmbio, entre R$ 2,00 e R$ 2,05, pelo menos até a trajetória de inflação gerar um pouco mais de conforto.”

Depois das eleições presidenciais no ano que vem e, especialmente, a partir de 2015, os analistas acreditam que os fundamentos para a apreciação do dólar ante o real vão prevalecer. Para Kanczuk, da USP, modelos de câmbio de equilíbrio sugerem que, no longo prazo, um dólar a R$ 2,40 faz mais sentido do que o nível atual. “Mas é normal, durante um processo de ajuste cambial, haver um excesso de desvalorização antes de se chegar ao equilíbrio (um ‘overshoot’)”, diz o professor. “Com isso, é razoável imaginar que o real desvalorizaria até uns R$ 2,80 por dólar antes de voltar ao equilíbrio”. Segundo Kanczuk, isso não aconteceria em 2013. “Colocado na parede, eu chutaria que a desvalorização ocorrerá nos próximos 24 meses.”

Já o economista-chefe do banco J. Safra, Carlos Kawall, prevê um dólar a R$ 2,05 no fim deste ano e a R$ 2,15 no fim de 2014. “Isso indica que até o fim do ano, ao menos, não deve haver grande volatilidade do real.” Ele lembra que, conforme estimativa do BIS (Bank for International Settlements), o câmbio real efetivo (calculado contra uma cesta de moedas ponderada pelos principais parceiros comerciais) está 19,6% valorizado, se comparado ao nível médio de julho de 1994 a março de 2013.

“A abundante liquidez internacional resultante das políticas de estímulo adotadas pelos principais bancos centrais (notadamente o Fed e o Banco do Japão) tem facilitado o financiamento de nosso déficit em transações correntes, dado o grande apetite por ativos de renda fixa com juros mais elevados que os prevalecentes no mundo desenvolvido, como demonstrou a captação recente da Petrobras”, explica Kawall. “A médio prazo (em um a dois anos), deve voltar a ser mais dominante o fundamento doméstico, que aponta para um crescimento do déficit em transações correntes, sugerindo um câmbio mais desvalorizado.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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