O banco central da China inesperadamente elevou hoje o juro de referência no mercado interbancário pela primeira vez em quase cinco meses, sinalizando uma mudança no foco da política em direção a evitar riscos inflacionários no novo ano. O aperto, sob a forma de um juro mais alto no leilão semanal de venda de bônus, aconteceu um dia após o Banco do Povo da China (PBOC, o banco central do país) indicar que suas prioridades mudaram rumo ao gerenciamento das expectativas de inflação e afastando-se de apenas dar apoio ao crescimento econômico.
Na operação semanal no mercado aberto, o banco central vendeu 60 bilhões de yuans (US$ 8,8 bilhões) em bônus de três meses, a 1,3684% hoje, após ter mantido o retorno ao investidor (yield) em 1,3280% desde 13 de agosto. A ação também mostra que o PBOC ainda prefere usar instrumentos de gerenciamento de liquidez, ao invés do juro básico da política, para guiar os custos de financiamento do mercado gradualmente para cima antes que a inflação se torne uma ameaça real, disseram analistas.
O PBOC enxugou líquidos 137 bilhões de yuans do mercado monetário esta semana, a maior retirada de recursos semanal em quase três meses. O banco central vem enxugando liquidez há 13 semanas consecutivas. “O repentino aumento no yield do bônus do banco central está em linha com os comentários do PBOC ontem, e eu acredito que ele permitirá que o yield ainda bastante baixo suba mais nas próximas semanas”, afirmou Qu Qing, analista de bônus da Shenyin Wanguo Research & Consulting.
Ontem, o PBOC disse que “deve manter os esforços de política para sustentar o crescimento econômico firme e estabilizar os preços e efetivamente gerenciar as expectativas de inflação”. O comentário sobre a estabilidade de preços representou um afastamento da recente retórica de Pequim de que buscaria um equilíbrio entre manter o crescimento, reestruturar a economia e conter as expectativas de inflação. Qu espera que o yield no bônus de três meses suba para 1,5% no curto prazo, enquanto o yield nos bônus do banco central de um ano, normalmente emitidos em operação no mercado aberto toda terça-feira, pode subir para 2,0%, dos atuais 1,7605%.
Vale lembrar que o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, em rara entrevista à agência de notícias estatal Xinhua no mês passado, discutiu as crescentes expectativas de inflação e demonstrou preocupação com o rápido aumento dos preços de propriedades, mostrando que a liderança chinesa está mais ciente da ameaça inflacionária no momento em que a economia ensaia forte recuperação. O índice de preços ao consumidor da China subiu pela primeira vez em 10 meses em novembro, em 0,6% por causa dos preços de alimentos mais elevados. O comunicado do PBOC ontem afirmou ainda que o banco central vai empregar a persuasão para garantir uma oferta monetária razoável e a expansão do crédito este ano, e fortalecer seu gerenciamento de liquidez. As informações são da Dow Jones.