A avicultura paranaense está preocupada com a pretensão da União Européia em aumentar o teor de sal dos cortes de peito de frango exportados pelas empresas brasileiras. Esse percentual, que varia de 1,2% a 1,5%, passaria para mais de 1,9%. Com isso, o produto não poderia ser utilizado para fins industriais, inviabilizando as vendas externas.

O presidente do Sindicarne (Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná), Péricles Salazar, classificou “de lastimável” a proposta da União Européia. “Ficou claro o interesse dos produtores – principalmente alemães -que não tem condições técnicas de concorrer com o produto brasileiro”, opina. “O governo brasileiro tem que tomar uma posição forte contestando isso na OMC (Organização Mundial do Comércio). Certamente as entidades de classe estarão fornecendo subsídios”.

Da produção paranaense de frango, em torno de 30% é exportada. A média brasileira vendida ao exterior é de 22%. “Se a União Européia realmente aumentar o teor de sal, haverá um problema econômico e social terrível no Brasil”, avalia Salazar. “A avicultura brasileira – principalmente a do Paraná – está crescendo fisicamente ano a ano, alojando novas matrizes, instalando abatedouros e granjas, para perseguir o mercado exportador. Se acontece um baque do outro lado, seremos prejudicados”, afirma.

“Esperada”

O presidente da Avipar (Associação dos Abatedouros e Produtores Avícolas do Paraná), Paulo Muniz, disse ontem que a barreira técnica já era esperada. “Temos que entender que o Brasil, com uma avicultura organizada e pronta para assumir novos compromissos, ocupou um espaço significativo junto à União Européia diante do fato da vaca louca. Hoje, a Comunidade Européia reorganizada reavalia as perdas, buscando recursos para viabilizar ganhos à sua população. É natural que ocorram estes embates”, considera.

No entendimento de Muniz, nenhum País consegue fazer um mercado de consumo lastreado unicamente em produtos exportados. Por isso, defende a ampliação do mercado interno. “Claro que vai ter protecionismo nos países desenvolvidos. Cada frango que entra na Europa, é menos um pinto que nasce e menos emprego”, cita, destacando que os subsídios agrícolas de EUA, Ásia e Europa passam de U$ 1 bilhão por dia.

Dos 170 milhões de brasileiros, 60 milhões não consomem proteína com regularidade, ressalta Muniz. O estímulo do consumo interno, na visão dele, depende de medidas políticas e econômicas. “O Brasil precisa ter superávit, mas não pode sonhar que a situação econômica será resolvida com a exportação”, declara. “Não podemos ficar desesperados com a dívida, deixando o mercado interno espremido para deixar a inflação sob controle”.

Perda significativa

Apesar da barreira anunciada, Muniz não acredita em ameaça ao setor avícola do Paraná. “Nossa produção não deve cair em função desse fato”. O Paraná é o maior produtor nacional de frango, com 20% da produção, e o segundo maior exportador, atrás de Santa Catarina.

Embora a Europa represente 19% do volume de frango exportado pelo Brasil, empata com o Oriente Médio no faturamento (ambos com 32% do total). Em quantidade, o principal mercado consumidor de frango brasileiro é o Oriente Médio, com 45% do total exportado. A Europa se iguala no faturamento porque 80% de sua compra é de cortes selecionados, de maior valor. No ano passado, da exportação de U$ 1,3 bilhão em carne de frango, a Europa comprou U$ 410 milhões – sendo aproximadamente U$ 80 milhões do Paraná.

“Em 2002, vínhamos crescendo forte no mercado europeu, enquanto houve queda nas vendas para o Oriente Médio”, salienta o economista Gustavo Fanaya, do Sindicarne. Segundo ele, a Europa representava um bom potencial de crescimento devido às negociações do Mercosul com a União Européia.

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