São Paulo – Com a inadimplência batendo à porta, os bancos limitaram a concessão de novos empréstimos e o resultado é o maior arrocho nos últimos cinco anos. A previsão da consultoria Austin Asis é que a carteira total de crédito, que somava cerca de R$ 350 bilhões em dezembro, cresça 10% neste ano, abaixo da média anual de 20% a 25% registrada desde 1998.
Os balanços referentes ao primeiro semestre já indicaram a cautela do setor. Depois de avançar 45,3% entre junho de 2000 e junho de 2001, o volume de financiamentos não aumentou mais do que 14,8% neste semestre. Passou de R$ 127,290 bilhões, em junho de 2001, para R$ 146,148 bilhões, numa amostra com 21 instituições.
Maior banco privado do País, o Bradesco foi o primeiro a anunciar mudanças para sua carteira de crédito. A estimativa de crescimento das operações, que chegou a ser de 20% no início do ano, agora se situa entre 10% e 12%. Itaú e Unibanco também reviram suas estimativas.
O Itaú não espera um avanço superior a 10%, contra os 15% projetados no início do ano, enquanto o Unibanco reduziu sua meta de 20% para apenas 8%. Somados, os três respondem por quase 30% do volume de empréstimos do setor bancário.
Esta não é a única notícia ruim para quem precisa de financiamento para cobrir suas despesas. Os balanços analisados pela Austin Asis mostram que, enquanto a carteira de crédito cresceu 14,8%, a receita obtida com esses financiamentos (ou seja, o que os bancos embolsaram com a cobrança de juros e spreads) avançou muito mais. Spread é a diferença entre o juro que o banco paga pela captação do recurso no mercado e o que cobra do cliente.
A receita por empréstimos saltou de R$ 16,881 bilhões, em junho de 2001, para R$ 21,838 bilhões, com variação de 29,4%. Ou seja: os bancos emprestaram menos, mas o ganho final acabou sendo maior.
A explicação para isso é simples. Os spreads cobrados pelos bancos brasileiros continuam sendo os maiores do mundo. Embutidos nos juros correntes, eles podem variar de 25% ao ano, nas operações de financiamento a empresas, a 56% para pessoas físicas.
Em 1997, auge da inadimplência, chegaram a 45% e 100%, respectivamente. A valorização de 22,5% do dólar no primeiro semestre, indexador usado em contratos com empresas, também deu impulso ao resultado dos bancos neste primeiro semestre.
Com spreads tão altos assim, mesmo em períodos de crise é possível para os bancos alcançarem um lucro muito positivo, afirma o presidente da Austin, Erivelto Rodrigues.
Segundo ele, a cautela dos bancos se deve à percepção de que a inadimplência deve aumentar na medida da desaceleração da economia. Dados da Anefac, associação que reúne executivos de finanças, mostram que a dívida vencida há mais de 90 dias e não paga por pessoas físicas cresceu 43,64% nos últimos 12 meses. Dependendo do tipo de crédito, o calote é mais expressivo. No cheque especial, por exemplo, a inadimplência subiu para 51,61%.
O presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira, afirma que os gerentes das agências perderam a autonomia para aumentar o limite de crédito dos clientes pessoa física. Já as empresas de médio porte, que precisam renovar suas linhas de financiamento, têm de pagar, primeiro, a parcela referente aos juros em atraso. Além dessas exigências, os bancos ficaram mais rigorosos na apresentação de garantias. Imóveis e máquinas, antes suficientes para aprovar o crédito, agora não são mais bem-vindos. Em muitos casos, o cliente precisa hipotecar parte da receita que vai receber no futuro.
A defesa dos bancos contra a insolvência é dupla. Ao mesmo tempo em que endurece na liberação de novos financiamentos, o setor também aumenta suas provisões para os chamados créditos de recebimento duvidoso – em que não há certeza se o devedor vai conseguir quitar a dívida pendente. Considerando a mesma amostra de 21 instituições, as despesas com provisão subiram 47,5% em um ano, passando de R$ 2,594 bilhões para R$ 3,827 bilhões.