Brasília (AE) – O vencedor do Prêmio Nobel da Paz, o indiano Muhammad Yunus, criticou anteontem, durante a Cúpula Mundial do Microcrédito, no Canadá, a forma com que as instituições financeiras têm lidado com a oferta de crédito, em todo o mundo. ?Os bancos comerciais praticam uma espécie de apa-rtheid financeiro, traçam uma linha e dizem que não lidam com quem vive do outro lado desta linha. Só que atrás desta linha estão dois terços da população mundial.

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Yunus é o criador do banco Grameen, que já ofereceu crédito a 6 milhões de clientes de baixa renda e é a principal estrela da cúpula, que reúne até amanhã 2,3 mil delegados de 100 países. No primeiro dia do encontro, os delegados decidiram criar uma meta para tirar da pobreza 175 milhões de famílias no mundo, por meio de empréstimos para as microempresas.

Para Yunus, existe uma falta de incentivo ao microcrédito na América Latina, mas governos de países como Brasil e México já estão se movimentando. ?No Brasil, o presidente Lula tem conseguido fazer isso por meio de bancos comerciais. Mas, em geral, eles são muito conservadores e atuam mais sobre pressão do governo do que por seu próprio entusiasmo.?

Brasil

O programa de microcrédito no Brasil já concedeu R$ 8,4 bilhões em empréstimos desde 2003, segundo o Ministério da Fazenda. No entanto, o governo reconhece que o programa ainda não gera benefícios suficientes para a população carente e que as instituições financeiras só agora estão começando a prestar atenção no universo dos microempresários.

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No Brasil, entre as poucas organizações que dão crédito para os microempresários está o Banco do Povo Paulista, do governo de São Paulo, e que conta também com recursos das prefeituras. O banco oferece empréstimos entre R$ 200 e R$ 5.000, com juros de 1% ao mês, bem abaixo do que se encontraria no mercado. ?Já ajudamos 136 mil pessoas e, no último levantamento, soubemos que 91% destas pessoas conseguiram aumentar sua renda?, diz o gerente de operações da instituição, Gustavo Romano.

O São Paulo Confia, da Prefeitura de São Paulo, tem 4 mil contas ativas e empresta de R$ 50 a R$ 5 mil aos microempreendedores. ?Nos inspiramos no modelo do Yunus, e adaptamos para a realidade brasileira. É uma das melhores soluções para distribuir renda no país?, diz Paulo Colozzi, presidente do banco, que em 5 anos emprestou R$ 45 milhões.

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Nele, empréstimos são feitos a grupos de quatro a sete pessoas, que juntas garantem o pagamento das parcelas. ?Um dá aval para o empréstimo do outro e ajuda no que for preciso para que o negócio do companheiro dê certo, o que resulta numa inadimplência superbaixa. Apenas 1,14% das pessoas que pegam empréstimo pagam com atraso.