O lucro de 12 dos maiores bancos do país nos primeiros seis meses do governo Lula foi superior ao apresentado durante todos os primeiros semestres dos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). A conclusão consta em estudo realizado pela consultoria Austin Asis com base nos balanços semestrais já publicados por 12 grandes bancos, entre eles Bradesco, Itaú, ABN Amro/Real, Banespa (Santander) e HSBC.

De acordo com o trabalho da Austin Asis, o lucro nominal dos bancos no primeiro semestre deste ano somou R$ 4,29 bilhões. O resultado é superior ao do mesmo período de 2002, que foi de R$ 4 bilhões, tido como recorde na história do país.

Ainda se o lucro dos bancos for deflacionado pelo dólar (cotação de 30 de junho de cada semestre), o estudo mostra que o resultado dos primeiros seis meses de Lula foi superior ao dos anos FHC. Em dólar, o lucro dos bancos no primeiro semestre atingiu US$ 1,49 bilhão, contra US$ 1,41 bilhão de 2002 e US$ 1,47 bilhão de 2001.

Segundo Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Asis, a conversão dos balanços para o dólar foi utilizada porque, além de ser referência internacional, registrou variação mais constante no período analisado. Se tivesse sido usado o IGP-DI, por exemplo, haveria uma discrepância no resultado do primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2002, uma vez que o índice foi fortemente influenciado pela desvalorização cambial.

“Aquilo que se falava, que o governo FHC privilegiava os bancos, é verdade, mas o governo do PT também propiciou a mesma coisa”, diz Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Asis.

Ganhos na alta e na baixa

Segundo Rodrigues, o lucro recorde dos bancos se deve, em primeiro lugar, à política monetária de juros altos do Banco Central. E, em segundo lugar, à volatilidade do câmbio. “Os bancos ganham dinheiro tanto na alta como na baixa do dólar”, diz.

Outro fator que explica o alto lucro dos bancos é o “spread” (diferença entre o custo de captação do dinheiro e o que é cobrado do tomador) de cerca de 33% ao ano cobrado pelos bancos nas operações de empréstimos. “São os maiores ?spreads? do mundo.”

Rodrigues afirma também que, a cada ano, os bancos se tornam mais eficientes na administração dos recursos, principalmente numa economia conturbada como a do Brasil. Ele cita o exemplo do Itaú, que registrou, nos últimos três anos, resultados acima de R$ 1 bilhão no primeiro semestre. Isso mostra que o banco soube ganhar dinheiro quando o dólar subiu e quando o dólar caiu.

O grande problema, na opinião de Rodrigues, não é o resultado dos bancos, mas o fato de a política do governo comprometer o crescimento da economia. A seu ver, havia espaço para adotar uma política mais agressiva de queda dos juros, mas o governo optou pelo conservadorismo, o que acabou por favorecer o resultado dos bancos.

Para Rodrigues, se o BC não começar a baixar os juros de forma mais agressiva já na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), a economia continuará no mesmo ritmo no primeiro trimestre do ano que vem.

Os juros básicos da economia (taxa Selic), atualmente em 24,5% ao ano, precisam iniciar 2004 em 18% ao ano, segundo Rodrigues, para que o crescimento do ano que vem também não fique comprometido. “O governo precisa afrouxar a política para o país voltar a crescer”, diz.

Para este ano, a Austin Asis prevê que o lucro dos bancos seja o maior da história.

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